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Pela primeira vez, intérprete de LIBRAS traduz parto para mãe surda na Santa Casa de Taquaritinga (SP)

Além das recomendações médicas, intérprete transmitiu, através dos gestos, as emoções e o choro do bebê ao nascer

O último domingo, dia 16 de Agosto, foi marcado por um momento emocionante na Santa Casa de Taquaritinga (SP); acontecia, na manhã daquele dia, o primeiro parto com acessibilidade em LIBRAS. A mãe, Camila Stefani da Silva Barbosa, de 19 anos, é portadora de deficiência auditiva e esteve acompanhada da intérprete Leidjane Alves dos Santos, tendo a oportunidade de se sentir mais segura ao se comunicar com a equipe médica.

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Camila pertence à Associação de Deficientes Físicos e Surdos (ADEFIS) e a ideia de acompanhar o primeiro parto da jovem partiu de Leidjane. “Ela estava com quase cinco meses de gestação quando começamos a conversar sobre o pré-natal que estava fazendo; foi quando ela me disse que encontrava dificuldade durante as consultas e precisava da companhia de sua mãe para auxiliá-la na comunicação. Depois de ouvir isso, fique pensando em como seria o parto dela e, então, propus que eu estivesse lá para lhe ajudar”, disse em entrevista ao Jornal Tribuna.

O uso obrigatório da máscara de proteção individual também impossibilitaria a gestante de realizar a leitura labial dos profissionais para seguir as recomendações passadas. Diante de tantos fatores, Leidjane passou a acompanhar Camila e programar-se para estar presente nesta hora tão especial em sua vida; entretanto, as duas foram surpreendidas pela antecipação do parto na manhã de domingo.

Eram 8h40 quando a intérprete recebeu uma mensagem de Whatsapp informando que Camila, com 37 semanas e 2 dias de gestação, estava em trabalho de parto. Rapidamente, ela se dirigiu para a unidade hospitalar para colocar em prática o que havia planejado durante os meses anteriores. “Confesso que fiquei muito nervosa, mas precisava me controlar para passar segurança a ela. Tentei me tranquilizar para conseguir ajudá-la ao máximo, mas a emoção foi inevitável, pois também era um momento único para mim”, relata.

Na sala do parto:

Após passar pela consulta e procedimentos necessários, Camila foi levada para a sala de parto acompanhada pela equipe médica do ginecologista Dr. Francisco Simão Calil e da intérprete. Um pequeno problema técnico em um dos aparelhos acabou causando apreensão na gestante, que logo foi tranquilizada graças a Leidjane. “Foi um pequeno imprevisto dentro da sala que a deixou um pouco nervosa por não saber o que, de fato, estava ocorrendo, pois os enfermeiros começaram a se movimentar de repente para solucionar o impasse. Penso que se eu não estivesse lá para explicar da forma que ela entendesse, ela teria tido um estresse desnecessário e poderia não curtir o nascimento de seu bebê”, enfatiza.

Depois de tudo normalizado, o bebê Marlon chegou ao mundo ás 10h10, através de parto normal, pesando 2,250kg. “Foi um parto rápido e os enfermeiros elogiaram muito a Camila, pelo seu empenho e colaboração durante todo o processo”, disse.

Graças ao trabalho da taquaritinguense, a gestante conseguiu se comunicar com a equipe e pôde entender tudo o que estava acontecendo. Quando o menino nasceu, Leidjane transmitiu as emoções faciais/corporais da criança e o choro do bebê enquanto ele estava no colo do obstetra.

Leidjane com Camila e sua mãe aguardando a chegada do bebê Marlon no quarto (Foto: Arquivo Pessoal)
Camila e seu marido Carlos Pinheiro aguardando a chegada do primeiro filho do casal no quarto (Foto: Arquivo Pessoal)

Em casa:

A família recebeu alta médica na manhã de segunda-feira (17) e já se encontra em seu lar, no Jardim São Sebastião. Em seu depoimento ao Jornal Tribuna, Camila contou a importância da acessibilidade em um momento tão singular em sua vida:

“Sem a comunicação com os médicos eu acho que seria muito difícil pra mim. A acessibilidade é um direto de todo o deficiente auditivo e o hospital não oferecia esse suporte. Agradeço muito a Leidjane por se disponibilizar e me acompanhar, pois eu não ia entender nada o que a equipe médica iria me falar por conta do uso das máscaras. Eu estava muito ansiosa pelo nascimento do meu filho e quando o vi nascer eu chorei muito, fiquei emocionada e muito feliz! Estou me sentindo maravilhosa pois esse era meu maior sonho: ser mãe”, relata Camila, ao carregar o filho nos braços.

O bebê passará pela Triagem Auditiva Neonatal (conhecido como o exame da “orelhinha”) e os pais saberão se ele é portador de deficiência auditiva nos próximos dias. “Independente do diagnóstico, o Marlon viverá sempre em contato com “dois mundos”, pois o seu pai não possui surdez. Ele terá  uma vida linda, cheia de surpresas e inclusão, além de muito amor. Não tenho dúvida de que ele foi privilegiado em nascer em uma família que tem muito a ensinar”, finaliza.

Camila e seu filho Marlon na casa da família na tarde de segunda-feira (Foto: Arquivo Pessoal)

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