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Crônica da semana por Nilton Morselli

Assim em casa como na rua

A vida brasileira prova, todo dia com alguma ênfase, que o poder revela o caráter, e aqui não se fala somente do poder com que a política reveste os ocupantes de mandatos. O nada admirável mundo novo em que estamos vivendo criou um outro alucinógeno que mexe com a cabeça das pessoas: as redes sociais. É cada troca de farpas que poderia render sopapos caso os contendores estivessem frente à frente. O ambiente virtual aflora a coragem e a falta de bom-senso.

Antes que me acusem de generalizar, digo que nem todo mundo cai nessa cilada. Postagens de orações, memes, bichinhos fofos, cachorros fujões e pratos vistosos estão aí para provar que há muita candura sendo compartilhada na internet. Isso, em análise rápida, demonstra que os responsáveis por esses perfis têm personalidades paz e amor? Não necessariamente.

Chegamos ao clímax dessa primeira crônica de maio, o mês que personifica a brandura como nem um outro (veja como maio, com sua leveza maternal, flutua no calendário). Nem todos os que são polidos em público agem da mesma forma em casa. Conheço verdadeiros gentlemen com desconhecidos que são ogros com a família. O humor muda, para pior, do portão para dentro. Conviver com esse tipo de gente é um desafio que ninguém merece.

Variação de humor é uma coisa, mas tem limite e não pode ser uma constante, porque aí já é caso para tratamento. A bipolaridade patológica, nesses casos, foi motivo para muitas separações conjugais. Às vezes a crueldade vem em forma de ciúme doentio, capaz de macular a individualidade e o equilíbrio emocional, o que sufoca qualquer resquício de amor. Isso quando não descamba para a violência física.

Embora essas situações sejam muito comuns até mesmo nas melhores famílias, em grau ainda mais superlativo estão aqueles ou aquelas que são, imotivadamente, mal-educados com a pessoa que escolheu para viver sob o mesmo teto. Mas na rua têm a polidez de um lorde inglês. Geralmente, a verdadeira personalidade vem à tona pouco tempo de depois de achar que a certidão de casamento é um título de propriedade.

Que atire a primeira pedra quem nunca teve uma rusga doméstica. Mas daí a transformar uma divergência em ataque sistemático é coisa de gente com recalque, e está para nascer quem gosta de ser maltratado. A civilidade, com sua capacidade de se adaptar a quaisquer condições, é sempre bem-vinda.

Existe até um dia mundial – 13 de novembro – para se enaltecer a gentileza. Se pequenos gestos afáveis podem mudar o mundo, que dirá o poder que eles têm no estreito círculo familiar. Se aceitar um conselho deste inexperiente cronista: seja intolerante com grosserias e não seja você o autor delas – nem mesmo para devolver na mesma moeda. A saúde mental de todos agradece.

Ilustração: Ramalhete Vetores/Vecteezy

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