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KAMALA HARRIS E DONALD TRUMP – QUEM VENCEU O DEBATE PRESIDENCIAL?

*Por Ernesto Louzada Bassoli

Kamala Harris e Donald Trump se enfrentaram pela primeira vez em um debate presidencial, na noite de 10 de setembro.

A atual vice-presidente assumiu a candidatura após o atual presidente Joe Biden desistir de concorrer à reeleição, dias depois da desastrosa performance no debate de junho.

Kamala manteve uma postura firme em relação a Trump, ex-presidente republicano que busca retornar à Casa Branca.

O debate foi tenso, iniciado com um embaraçoso aperto de mão que Trump tentou evitar, seguido por uma retórica de ataques entre os candidatos nos 90 minutos seguintes.

Trump buscou entrelaçar Harris à impopular administração de Biden, que enfrenta dificuldades para lidar com o alto custo de vida e mediar conflitos na Europa e Oriente Médio.

Harris preferiu focar em questões centrais e não rebater a ataques pessoais feitos por Trump.

A estratégia do ex-presidente de se esquivar das perguntas, proferir mentiras e insultar seu oponente já era conhecida, o objetivo é desestabilizar o adversário e gerar repercussão na mídia.

A vice-presidente pareceu estar preparada para lidar com essa antiga tática, destaque às expressões faciais, similares às dos espectadores, diante de cada afirmação absurda feita por Trump, como a de que democratas apoiam leis que preveem “abortar um feto após o nascimento” e que imigrantes ilegais estão “se alimentando de animais de estimação de cidadãos americanos”, em cidades como Springfield, em Ohio.

Harris desestabilizou Trump, em alguns momentos, ao questionar a veracidade de suas declarações, porém, não conseguiu “nocautear” o adversário, deixando o confronto em aberto.

ECONOMIA E DEMOCRACIA
Trump se destacou nos temas da economia e imigração, argumentando, convencidamente, que sua administração atuou de maneira mais eficaz, afirmando, ainda, que o governo Biden-Harris havia transformado os Estados Unidos em uma “nação em declínio” e que, caso Harris seja eleita, o país se tornaria uma “Venezuela com anabolizantes”.

Por outro lado, a vice-presidente se manteve firme em questões como Democracia e o direito ao aborto, temas decisivos este ano. Kamala atacou Trump pela sua participação na invasão ao Capitólio, em 2021, dizendo que o ex-presidente tem desdém pela constituição.

A posição do republicano em relação ao aborto foi pautada por Harris, uma vez que o ex-presidente se orgulhou de ter indicado os juízes da Suprema Corte que revogaram o direto federal ao aborto, mas, dias atrás, o próprio Trump declarou que vai apoiar uma medida popular para legalizar o aborto na Flórida, estado em que reside.

POLÍTICA EXTERNA
A política externa foi mais um tema quente na noite de terça-feira.

Trump comparou seu histórico de diplomacia e amizade com líderes internacionais, em meio à desestabilização criada por Biden-Harris no mundo, afirmando que as guerras na Ucrânia e na Palestina jamais aconteceriam se ele fosse o presidente.

De fato, Trump possuía uma postura interessante em assuntos internacionais, mantendo uma relação estável com os presidentes da Rússia, Vladmir Putin, e da China, Xi Jinping, além de se tornar o primeiro presidente americano a visitar a Coreia do Norte, em 2019.

Defendendo uma política externa de “America First” (América Primeiro), o ex-presidente promoveu um retorno à tradição americana de isolacionismo, ao contrário do intervencionismo priorizado desde o fim da Segunda Guerra. A eficácia dessa abordagem é discutida, todavia, é algo que a população americana, em geral, apoia, dando a Trump certa vantagem nesse tema.

Em contrapartida, Harris prometeu apoio incondicional à Ucrânia e Israel, enfatizando a necessidade de proteger a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e estabelecer um Estado Palestino independente.

A democrata atacou ferozmente Trump neste tema, o ponto alto de sua performance, dizendo que estrategistas militares disseram que Trump é uma “desgraça” e que se ele fosse presidente, Putin estaria sentado em Kiev, olhando para a Polônia.

Trump rebateu, afirmando que Harris é uma “péssima negociadora” e que líderes mundiais estão “rindo de sua cara” no momento.

DECLARAÇÕES FINAIS
Nas considerações finais, Harris enfatizou que pretende ser uma presidente “para todos os americanos”, independentemente de filiações políticas.

Trump questionou o porquê de Harris, como vice-presidente, não ter pressionado pelas reformas que promete agora, como candidata ao topo da chapa, afirmando que ela é uma “líder ineficiente”.

A abordagem de ambos, nos minutos finais, indica qual parte do eleitorado eles buscaram interagir durante o debate.

Harris, que se tornou a candidata democrata de uma maneira incomum, conseguiu unificar seu partido e empolgar os militantes – antes desanimados com a candidatura de Biden –, agora busca atrair os eleitores independentes que estão insatisfeitos com o rumo do país, mas que não confiam em Trump para lidar com os problemas, e também os eleitores republicanos exaustos da retórica trumpista, que desejam retornar à tradição de seu partido.

Trump, em queda nas pesquisas de intenções de voto, desde que Harris substituiu Biden como candidata, buscou se comunicar com sua base radical de apoiadores e relembrar àqueles indecisos de que a fonte de sua consternação com o cenário político atual provém não somente de Biden, como também de Harris.

QUEM VENCEU?
O que pode ser o único debate de uma das mais importantes eleições da história foi inconclusivo.

Harris não teve o grande momento de estrelato que desejava; e é improvável que Trump consiga recriar o entusiasmo que gerou após o debate contra Biden, há três meses.

É justo dizer que a noite foi o retrato da corrida eleitoral: impasse.

Um impasse que ambos os candidatos terão que correr contra o tempo para quebrá-lo.

*Ernesto Louzada Bassoli é estudante.

Foto: SAUL LOEB/AFP

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