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Israel e Palestina: História de disputas, guerras, esperanças e incertezas

Por Luís José Bassoli

No fim da 2.ª Guerra, a comunidade internacional decidiu que era preciso criar um país para acolher o povo judeu que sobreviveu ao Holocausto nazista.
A escolha do local remete à “Terra Prometida” mencionada nas “escrituras judaicas”, onde, há séculos, viviam os muçulmanos palestinos.

Ytzak Rabin, Bill Clinton e Yasser Arafat

 

CRIAÇÃO DE ISRAEL

Em 1947, a Assembleia Geral da ONU, presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, aprovou o Plano de Partilha da Palestina e a criação do Estado de Israel, que ficaria com 53% do território, enquanto a Palestina com 47% – e Jerusalém sob controle internacional.
A proposta não foi aceita pelos árabes e, no ano seguinte, deu-se a Primeira Guerra Árabe-israelense, com Egito, Síria, Jordânia, Líbano e Iraque, encerrada com a vitória de Israel, que dominou cerca de 80% do território e expulsou mais de 700 mil palestinos.
Seguiram-se as guerras de Suez (1956), dos Seis Dias (1967) e de Yom Kippur (1973), todas vencidas por Israel.

 

ACORDOS DE PAZ

Em 1993, foi firmado o Acordo de Oslo, nome em homenagem à capital da Noruega onde se deram as negociações, que selaria a paz entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), assinado na Casa Branca, por Yasser Arafat, presidente da OLP, e Ytzak Rabin e Shimon Peres (primeiro-ministro e ex-primeiro-ministro de Israel), mediado pelo presidente dos EUA, Bill Clinton.
Pela primeira vez, o mundo acreditou que era possível: em 1994, Peres, Rabin e Arafat ganharam o Nobel da Paz.

Yasser Arafat, Shimon Peres e Ytzak Rabin com o Prêmio Nobel da Paz em 1995

 

 

ASSASSINATO DE RABIN E O FIM DO ACORDO

Em 1995, Ytzak Rabin foi assassinado por um extremista judeu, contrário à paz, num ato pela paz na Praça dos Reis (hoje Praça Rabin), em Tel Aviv.
No ano seguinte, Benjamin Netanyahu foi eleito primeiro-ministro e enterrou o acordo; em 2001, foi eleito o radical Ariel Sharon, cujo mandado ficou marcado pela perseguição e morte de Arafat.

Ariel Sharon e Benjamin Netanyahu

 

DEMOCRACIA ISRAELENSE

Apesar de definido como “Estado Judeu” (teocrático) por suas leis básicas, Israel é uma república democrática e liberal nos direitos civis: o aborto é legalizado, a posse de maconha é descriminalizada e o casamento gay é regulamentado.
Já na Palestina, a democracia é incipiente e os direitos civis são restritos: aborto, maconha e união homoafetiva são proibidos.

 

A ORIGEM DO HAMAS

Nos anos 1960, Yasser Arafat estruturou um partido político de centro-esquerda, laico (não religioso), chamado Fatah, que assumiria o governo da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Em 1987, acontece a primeira Intifada (levante dos jovens palestinos contra a ocupação israelense).
No intuito de enfraquecer o Fatah, através da divisão dos palestinos, Israel e EUA financiam a Irmandade Muçulmana, grupo islâmico surgido no Egito, que prega a adoção da “xaria” (leis do islamismo) na gestão do Estado.
Como consequência, é criado o Hamas, inicialmente como organização social, que passou a adotar práticas terroristas.

 

RUPTURA ENTRE FATAH E HAMAS

Em 2006, o Hamas vence as eleições legislativas, o que tiraria o Fatah do governo.
Em 2007, os grupos entram em guerra civil, que terminou com o Fatah no controle da Cisjordânia e o Hamas da Faixa de Gaza.

 

GAZA SITIADA

Desde 2007, Israel estabeleceu um bloqueio total à Faixa de Gaza, restringindo a entrada e saída de pessoas, produtos e até de ajuda humanitária.
O Hamas se radicaliza, com ataques de foguetes e atentados suicidas contra Israel.
Em retaliação, Israel bombardeou Gaza em 2008, 2012, 2014 e 2021 – e invadiu o território por terra em 2014, causando a morte de mais de 2 mil palestinos; a estratégia, na época, era “aparar a grama”, isto é, ocupar a região para “enfraquecer” o Hamas e dissuadir seus líderes a promover novos ataques.

 

7 DE OUTUBRO DE 2023

O Hamas realiza seu maior ataque contra Israel, denominado “Operação Inundação de Al-Aqsa”.
Uma ação planejada, com 1.500 homens, que, após lançarem milhares de foguetes às cidades da fronteira, romperam os muros e invadiram o país, em duas ondas principais.
O primeiro escalão, de grupos móveis (motocicletas, picapes, parapentes e um barco), entrou rapidamente em cidades e vilas, gerando pânico e terror, desviando a atenção dos militares.
O segundo escalão aproveitou o efeito surpresa e atacou postos e viaturas com drones e artilharia (destruiu até um poderoso tanque) – e sequestrou centenas de reféns.
O Hamas inovou no emprego de guerra eletrônica avançada, obstruindo as comunicações israelenses com destruição dos postos de observação e ataques hackers.


CONTRAOFENSIVA

O primeiro-ministro Netanyahu determinou uma série indiscriminada de bombardeios à Gaza, não poupando hospitais, escolas, instalações da ONU ou organizações como Médicos Sem Fronteira.
Dias depois, autorizou a invasão terrestre, indicando que a tática não é mais “aparar” e sim “arrancar a grama”, ou seja, não enfraquecer mas eliminar o Hamas, mesmo que custe o extermínio da população civil.

O resultado é o pior massacre do século 21: cerca de 10 mil palestinos mortos, das quais 6 mil (60% das vítimas) são crianças; do lado judeu, foram 1.100 mortes, sendo seis crianças (0,6% das vítimas).


REAÇÃO INTERNACIONAL: MASSACRE

É consenso que os ataques do Hamas foram “atos terroristas” e que Israel tem o direito de autodefa, desde que respeite as leis internacionais e os princípios da proporcionalidade e humanidade.
Numa conta simples, são quatro adultos palestinos mortos para cada adulto israelense – e, absurdamente, mil crianças palestinas para cada criança israelita morta.
Essa relação é claramente desproporcional, desnecessária e desumana, o que mostra que Israel abusa do direito de autodefesa e promove um verdadeiro massacre contra inocentes.
As imagens causam consternação, sobretudo nos países muçulmanos, como Arábia Saudita, Irã, Paquistão, Indonésia, Jordânia, Iêmen etc.

 

A ONU

Em 18 de outubro, o Brasil apresentou uma proposta ao Conselho de Segurança da ONU, que condenava os atos terroristas do Hamas e a violência contra civis, apelava pela libertação imediata de todos os reféns e rogava por uma “trégua humanitária”.
A proposta foi aprovada por 12 dos 15 países-membros (Rússia e Reino Unido se abstiveram), mas vetada pelos EUA.
No dia 27 de outubro, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou resolução de trégua humanitária, com 120 votos a favor e 14 contra.
A resolução é simbólica (só o Conselho de Segurança pode obrigar) – e Israel disse que não vai acatar.
Crescem, ao redor do mundo, manifestações públicas pelo fim dos ataques, inclusive em Nova York, Londres, Paris, Tóquio e São Paulo.

 

CONCLUSÃO E PROGNÓSTICOS

A escalada do conflito pode ser catastrófica para o Oriente Médio e certamente mudará as relações internacionais.
Irã e Arábia Saudita, potências regionais que não se comunicavam, ensaiam uma aproximação; Turquia, outra potência da região e país-membro da OTAN (organização militar liderada pelos EUA), endureceu as críticas a Israel; o poderoso grupo libanês Hezbollah se prepara para abrir uma frente de batalha na fronteira norte; o grupo iemenita Houthi já está atacando pelo sul.
Dias sombrios e noites aterrorizantes no horizonte.

(Com informações/imagens: BBCBrasil, G1, Brasil247, CNN, Uol, Sputnik, GGN, ONUNews, Wikipédia, e agências).

 

Luís José Bassoli é advogado, jornalista, professor de Geopolítica do Colégio Objetivo e ex-professor de Comércio Exterior da FATEC, pós-graduado em Didática para o Ensino Superior pela Unip.
Colaborador do Tribuna, foi vice-presidente da Subseção da OAB e presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga.

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