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Crônica da semana por Nilton Morselli

Carta para Cláudio Bedran no Céu

Prezado Cláudio,

Espero que a presente o encontre bem, depois de todos os percalços dos seus últimos dias por aqui. Como fundador do Centro Espírita Irmã Scheilla, com certeza está a vivenciar algumas das realidades descortinadas pela doutrina que comungamos. Fora das amarras do corpo, o espírito fica livre para dar foco ao que realmente importa. E aquela história do “agora descansou”, a gente sabe, é coisa para conformar os desavisados. O trabalho continua, só que em outro plano, onde não existe cansaço nem espaço para desânimo.

Aliás, se tem algo que nunca te fez parar foi desânimo. Quem decide lidar com o meio ambiente, se fosse para jogar a toalha nos primeiros percalços, nem teria entrado nessa luta. É uma área difícil, de ingratidão e incompreensão por parte dos negacionistas, dos que acreditam que se pode agredir e exaurir os recursos naturais impunemente. Quantas vezes te chamaram de “ecochato”, quando na verdade você apenas estava sendo intransigente nos seus pontos de vista. E você tinha razão!

Num tempo em que poucas pessoas levavam a sério a questão ambiental, falando sobre os males que estávamos plantando, você já nos alertava. Só isso já te qualifica como um visionário, um homem à frente do seu tempo. O resultado da irresponsabilidade humana está aí, a conta já chegou, em forma de calamidades climáticas de toda ordem. Mas certamente você já perdoou os que te fecharam as portas.

Você sabia dessas coisas simplesmente porque se interessava pelo assunto. Ganhou o respeito de outros que compartilhavam das mesmas preocupações e, aos poucos, a admiração de toda a sociedade. Idealista interiorano, chegou longe na defesa das nossas riquezas naturais, seja no Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente), seja no CNRH (Conselho Nacional de Recursos Hídricos), órgão que integra o SNGRH (Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos), ou no Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Agora mesmo você estava na vice-presidência do Comitê da Bacia Hidrográfica do Tietê Batalha, órgão criado para cuidar das águas do rio Tietê.

Mas não foi só isso. Foram muitas as campanhas e ações nas escolas. Você ajudou a plantar no coração de uma geração de estudantes a semente da consciência ambiental, da necessidade de preservarmos a nossa casa comum. Lembro também do trabalho com as nascentes do Ribeirão dos Porcos e suas matas ciliares. Sua ONG foi qualificada no projeto Ponto de Cultura, do governo federal, o que permitiu que inúmeras ideias saíssem do papel.

Na última sessão da Câmara, realizada no dia de sua partida, os vereadores te dedicaram um minuto de silêncio. Foi uma pequena homenagem a quem esteve entre eles, na legislatura 2001-2004. Se sua rápida passagem pela política, pelo Partido Verde, foi representativa, a sua missão como ambientalista foi além, muito além. Quantas conversas tivemos no ônibus para Araraquara, você estudando para ser advogado e eu, jornalista.

A conquista de uma emissora de rádio educativa, a nossa Planeta Verde FM, no ar desde 14 de dezembro de 2007, onze anos depois da fundação da ONG, mostrou que você e seu grupo não estavam brincando em serviço. Ao sintonizá-la para ouvir informações e músicas de verdade, impossível não lembrar de você, amigo. Essa será uma lembrança perene, assim como seu nome será associado, por muito tempo, à defesa das coisas da Terra. Agora você está ocupado com as coisas do Céu, mas que continue inspirando uma mentalidade verde aos que seguem por aqui. Um abraço.

Foto: Divulgação/Planeta Verde

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