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Crônica da semana por Nilton Morselli

Comprei –e recebi!– 200g de asa de barata

O que você já comprou de interessante em lojas virtuais? Certamente, muita coisa. De calçados e camisas a celulares e livros, quase todo mundo já teve alguma experiência, boa ou má, nesse tipo de comércio cuja relação com o consumidor é regida por uma legislação um pouco diferente em comparação à que regula a venda presencial.

A compra eletrônica é um formato que deu certo, mas exige cuidados. Às lojas criadas exclusivamente para atender nesse modelo somam-se as já tradicionais no mercado e que aderiram à modalidade. O grande chamariz é o preço, a despeito de ter de pagar pela remessa, quando não se consegue frete grátis. A sensação de pagar mais barato compensa a ansiedade da espera.

Ao receber a encomenda, minhas reações foram diversas. Já me surpreendi positivamente com a qualidade de um produto e a rapidez na entrega, mas já troquei mercadorias que não agradaram. Negociar com empresas idôneas é sempre garantia de satisfação ou o seu dinheiro estornado na fatura do cartão.

Mas também já me arrependi. Por exemplo, quando comprei um globo giratório que prometia projetar luzes coloridas num cômodo escuro. Juro que achei que tivesse comprado um planetário por apenas 60 reais, uma pechincha. Quando chegou, notei que o troço –do tamanho de um coco– tinha o poder de emitir um facho de luz de no máximo dez centímetros, ainda quando encostado na parede. Guardei-o como símbolo de que não se deve acreditar em qualquer oferta.

Mas essa não foi a pior experiência. Adquiri uma furadeira/parafusadeira por módicos 70 reais, recebi a nota fiscal e o rastreio da transportadora, tudo falso. A máquina nunca chegou. Engraçado que percebi ter sido enganado no minuto seguinte, um sinal de que compras por impulso devem ser evitadas. Ofertas muito generosas são um indicativo de engodo.

A partir de então, tracei uma estratégia: deixar o produto no carrinho do site e só efetivar o negócio no dia seguinte, tempo suficiente para refletir sobre a necessidade do item e pesquisar a reputação do vendedor. É uma variante do “na volta a gente compra”, que ouvíamos dos nossos pais.

A história que uma amiga me contou é ótima para confirmar a cautela que o consumidor precisa ter com o e-commerce. Ela, que queria ter dentes mais brancos sem passar por um consultório odontológico, comprou lentes dentais postiças. A moça não via a hora de receber a encomenda. Quando chegou, imagine a decepção ao constatar que recebera, diretamente da China, uma dentadura plástica articulada, muito parecida com aquelas de vampiro que as crianças usam para fazer medo na noite de Halloween.

Claro que minha amiga não usou o artefato, que deixa não só o sorriso artificial como a fala pastosa, como se estivesse com uma batata na boca. Ela aproveitou para fazer troça da própria compra, rir-se de si mesma e colocar os dentes de mentira apenas para divertir os amigos, contando às gargalhadas sobre o golpe em que caíra.

Todo cuidado é pouco, porque a internet é um campo fértil para falsificadores, embusteiros e golpistas. Além do seu dinheiro, estão atrás de dados de cartão de crédito e outras informações destinadas a aprimorar o crime. Comprar de lojas conhecidas é mais seguro, embora as plataformas virtuais de algumas delas já tenham sido copiadas.

Mas, por falar em “gato por lebre”, minha compra mais recente pelo modo virtual não pode ser enquadrada como tal. Encomendei 200 gramas de asa de barata, e confesso que já não é a primeira vez. Porém, não é nada disso que você pode estar pensando. O produto não é para fazer magia ou ser usado como ingrediente de uma sopa nauseante. São cascas de uma resina importada que lembram asas do asqueroso inseto. Misturadas com álcool, transformam-se em goma laca indiana para embelezar e proteger peças e móveis de madeira.

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