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Crônica da semana por Nilton Morselli

Vai um Oswaldo Aranha aí?

Ter um prato batizado com o seu nome não é pouca coisa. Oswaldo Aranha, diplomata e político gaúcho, recebeu essa honra. Tive o prazer de provar o Filé à Oswaldo Aranha há alguns anos. E foi em alto estilo, no tradicionalíssimo Restaurante Piero, no Pátio do Colégio, centro velho de São Paulo. Inaugurado em 1918, o lugar é ponto de encontro para o almoço de profissionais dos mais diversos setores.

Por dia, são servidos centenas de Oswaldo-Aranhas, destaque do cardápio. O prato é composto de um filé mignon, temperado com lascas de alho frito, acompanhado de batatas portuguesas, arroz branco, alcaparras e farofa de farinha de mandioca e ovos. Deliciosa e simples, como toda comida boa tem de ser.

Em 2020, a memória de Aranha (1894-1960) ganhou mais uma homenagem: ele tornou-se Herói da Pátria, reconhecimento concedido a Tiradentes, Santos Dumont, Machado de Assis, Zumbi dos Palmares, Zuzu Angel e Anita (não a cantora, mas a Garibaldi), entre outros trinta e poucos brasileiros inesquecíveis.

O Homem-Aranha é o mais popular herói da Marvel. Mas o nosso Aranha ajudou a combater um vilão bem real, sem escalar paredes e mandar teias pelo punho. No papel de ministro das Relações Exteriores de Getúlio Vargas, foi preponderante para que o Brasil desse uma banana para a Alemanha nazista e aderisse aos Países Aliados, que acabaram com a sanha expansionista e macabra de Adolf Hitler.

Quando o diplomata não estava ali, fazendo coisas triviais como presidir uma assembleia da ONU ou ser indicado para o Prêmio Nobel da Paz, o gaúcho de Alegrete estava na Lapa saboreando o prato dele no Restaurante Cosmopolita, apelidado de “Senadinho”, no Rio das décadas de 1930 e 1940. Ou no também carioca Café Lamas, outro que agregou o filé ao cardápio, dando-lhe o nome do freguês famoso. Em muitas capitais brasileiras, pode-se saborear o prato, que eu recomendo.

Oswaldo Aranha não é a única comida com nome de gente importante, mundo afora. Para continuar com as carnes, quem viu o Masterchef de 2015 pôde assistir a volta triunfal do Filé Wellington, que andava meio sumido dos menus. A receita, que enaltece os feitos do general inglês Arthur Colley Wellesley, o Duque de Wellington, ao derrotar as forças de Napoleão na Batalha de Waterloo (1815), valeu como prova de eliminação do programa da Band. Ninguém sabe ao certo quem inventou essa delícia, preparada com o miolo do filé mignon, fatias de presunto cru e cogumelos e envolta em massa folhada.

É famosa a Torta Pavlova, em reverência à bailaria russa Anna Pavlova (1881-1931). É feita com suspiro, chantili e frutas, lembrando a leveza das bailarinas clássicas. A Salada Cesar não tem nada a ver com o Cesar Maluco, muito menos com o Cesar Filho ou o imperador Julio Cesar. O chef italiano Cesare Cardini prestou uma auto-homenagem quando a inventou, no México: alface americana, queijo ralado, anchova ou atum, croutons e temperos variados.

Se você já foi a uma festa, deve ter tomado um Bloody Mary. Mas poucos traduzem o nome da bebida para o português: Maria Sanguinária (credo!). Consta que o criador foi o chef francês Fernand Petiot, que juntou suco de tomate e vodca em homenagem à rainha Maria I da Inglaterra, que perseguiu e mandou queimar os protestantes para que pudesse instaurar o catolicismo. Não é por acaso que esse drink faz sucesso no Halloween.

De volta ao Brasil, temos o popularíssimo Manezinho Araújo, guloseima também conhecida como Chico Balanceado em algumas regiões. Uma base de banana e açúcar, no meio um creme belga e coberto com suspiro – é irresistível. Ainda na categoria dos doces com nomes estranhos, destaque para o Mané Pelado, uma iguaria feita de mandioca, mas não é nada disso que você pode estar pensando. O tubérculo é triturado no liquidificador para virar um delicioso bolo de tabuleiro. Não faço ideia de quem foi Manezinho Araújo, muito menos o tal do Mané que andava por aí sem as calças.

Fica combinado assim: o leitor ou a leitora que fizer uma dessas receitas, por favor, lembre-se de convidar o cronista.

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