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Crônica da semana por Nilton Morselli

Ainda bem que eles existem

É normal alunos se tornarem admiradores de um ou mais professores. Creio que seja menos comum um professor virar fã de um aluno. Foi o que aconteceu entre o mestre Gilberto Tannus e Ruan Felipe Reis – e foi recíproco, garante o menino, hoje um pouco mais crescido. Em 2014, seu Gilberto dedicou a coluna que escrevia para o “Nosso Jornal” ao estudante da Escola Estadual 9 de Julho. Nos muitos elogios contidos no texto, nenhum exagero. O professor, profético em seus apontamos, já notava o talento de Ruan para a arte, sobretudo para o humor.

Não demorou muito para o rapaz pular do teatro do 9 de Julho para os palcos da cidade e da região, em shows de stand-up. Nove anos depois, eis que sua verve cômica chega ao cinema. No fim de agosto, Taquaritinga foi presenteada com o filme “Eles Existem”, sobre a caçada a um alienígena disfarçado que estava tramando uma invasão. A trupe de comédia “Primos do Tarcísio” contou com o talento de Gero Corrêa (IMovie Studio) para as filmagens. A produção ficou excelente, assim como o desempenho da galera à frente das câmeras.

Para produzir um longa-metragem precisa ter fôlego. Com a cara e a coragem, Ruan começou a escrever o roteiro em 2019, prevendo que as filmagens se iniciassem após o carnaval do ano seguinte. Mas aí veio a pandemia, que paralisou o projeto. O trabalho dos amigos restringiu-se a reuniões, em poucos, todos de máscara, para discutir detalhes técnicos e leituras do texto.

Em 2021, luz, câmera, ação… Quando tudo caminhava, Gero precisou passar por uma cirurgia e se submeter a um tratamento sério de saúde. Mais seis meses de paralisação. Recuperado e com ânimo redobrado, ele voltou ao trabalho.

Foi aí que Dayra Maria, intérprete de Patrícia, descobriu que estava grávida. Ainda faltavam algumas cenas, entre as quais o desfecho, no qual ela é preponderante. Pensou-se em parar, mas por fim resolveram acelerar, antes que a gravidez começasse a aparecer, o que nem sempre foi possível. Na cena do laboratório, Maya já despontava.

Duas outras barrigas foram muito bem nutridas ao longo de um ano e meio de gravações. Os personagens de Ruan e Felipe Manhani, digamos, mudaram um pouco de silhueta, porque as noites de gravação eram regadas a pizza. Os macacões dos caça-ETs começaram a ficar um tanto apertados.

Quando não é possível resolver um problema, contorná-lo é o remédio. O ator Kevin Alan tem a fala um pouco apressada. A produção tentou que ele pronunciasse seus longos textos um pouco mais devagar. Mas não teve jeito. Para evitar a repetição das cenas, a solução foi incorporar o ritmo ao filme, já que o cientista Hélio é um dos personagens centrais.

Os espectadores talvez não tenham notado, mas os brincos e os anéis do personagem Gomes são diferentes. Isso porque Ruan sempre perdia as peças e tinha que comprar outras para substituir, e nunca achava peças iguais.

O final do filme seria outro. O ET morreria eletrocutado ao fazer uma “chupeta” (ligação para troca de energia) entre as baterias de dois carros. Apesar de engraçado, os realizadores acharam que ficou um pouco pesado e decidiram mudar. Além do que o diretor achou melhor que houvesse algumas cenas de ação.

Ao longo da produção, o elenco todo achou que Dayra era a melhor atriz do filme. Então, após o término, foi criada uma cena para explorar um pouco mais a sua veia dramática: uma cena de choro. Mas ela não conseguia chorar. Aí foi a vez de o diretor entrar em ação: em dois minutos de conversa com Gero, a moça estava vertendo lágrimas de esguicho. Bastou fazer uma pergunta para a atriz, que já havia dado à luz: qual foi o momento mais feliz da sua vida? Ela respondeu de pronto: o nascimento da minha filha. Gero emendou: pois então pense nesse sentimento. Momento lindo para ela contar à menina daqui uns anos.

Agora, os Primos do Tarcísio, em parceria com o IMovie Studio, voltam às câmeras para as filmagens de “O Lobisomem de Taquara Branca”, outra comédia. O novo longa-metragem terá um tom mais teatral. Taquaritinga tem o prazer de gerar gente talentosa no setor cultural. Ainda bem que eles existem – e resistem. Podemos garantir que vem coisa boa por aí, viu professor Gilberto?

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