DESTAQUEMais recentes

Crônica da semana por Nilton Morselli

Não foi dessa vez

Quando assisti pela primeira vez a um jogo de futebol feminino profissional, nos anos 90 do século passado, não fiquei nem um pouco empolgado. Sem preconceito, parecia uma pelada que, nós, pernas de pau assumidos, disputávamos nos fins de semana. Agora com preconceito: “futebol é coisa de homem”, pensei, à época. Eu estava errado.

As partidas da Copa Feminina disputada agora, na Austrália e na Nova Zelândia, provam que as meninas do mundo todo evoluíram muito. Claro, já havia notado isso antes. Há alguns anos elas já não devem nada para os marmanjos em matéria dessa arte que tanto apreciamos.

Torci muito para a seleção brasileira passar pela Jamaica na manhã da última quarta-feira. Infelizmente, não deu. O empate nos mandou de volta para casa ainda na fase de grupos. Havia 25 anos que esse mau desempenho não acontecia.

A modalidade cresceu muito em três décadas. Grande parte dos 32 times que foi para o Mundial apresenta um refinado toque de bola, sem falar do preparo físico, de fazer inveja a equipes compostas por homens. Se disputasse o Brasileirão masculino, a seleção de Marta certamente estaria na ponta.

Mas o grupo não se saiu bem, sob a direção da treinadora sueca Pia Mariane Sundhage. Uma pena, sobretudo para a craque Marta, seis vezes eleita a melhor do mundo. Aos 37 anos, ela disputou sua última Copa sem ter o que merecia para coroar a carreira: erguer a taça junto com suas colegas.

Triste também para o futebol feminino do Brasil, que terá de se renovar se quiser ter sucesso algum dia. A renovação, claro, não quer dizer que nenhuma atleta do elenco deva ter outras chances. Mas um país com mais de 200 milhões de habitantes tem a dever de encontrar talentos e aprimorá-los.

A obrigatoriedade de os grandes times nacionais manterem equipes femininas ajudou na oferta de vagas e na evolução da técnica das garotas. Porém, é preciso mais. E aqui não há nada de preconceito, porque o esporte de alta performance sempre exige mais de quem o pratica ou é responsável por estimulá-lo.

Por óbvio, o mesmo serve para a seleção masculina, que desde 2002 não tem feito jus a nossa fama de país do futebol. A arte imortalizada por Pelé e tantos outros mestres ganhou muita notoriedade e altos investimentos mundo afora, enquanto patinamos. É hora de correr para recuperar o tempo perdido.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *