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Crônica da semana por Nilton Morselli

Comemoração

O grupo de amigos marcou o encontro no bar da esquina da praça, um sábado à noite. Sabiam, todos eles, que o italiano gostava de fechar lá pelas nove, no máximo, quando os últimos fregueses deixavam o recinto. Os moços também conheciam esse hábito porque eram frequentadores quase habituais.
Era um bar que se ia para beber, apenas. Não havia muito de sólido ali para acompanhar, porque o italiano era viúvo desde jovem e nunca mais se casou. Não tinha a mulher que tanto o ajudou, preparando os deliciosos pratos que fizeram a fama do estabelecimento. Havia sobre o balcão uma velha estufa de salgados, que se desconfiava sem a função de aquecer, pois não se via fio algum saindo dela. O homem era generoso, sempre oferecia uma porção de amendoim a quem tomava cerveja. Gentileza da casa.
Os rapazes, uns seis ou sete, sentaram-se à mesa faltando mais ou menos uns quarenta minutos para o término do expediente. Foram saudados com alegria pelo proprietário. Pediram cerveja. Beberam e conversaram ruidosamente por meia hora.
Já estavam meio sob o efeito do álcool quando um deles distribuiu chapéus de aniversário, o outro trouxe “línguas-de-sogra” e apitos.
O italiano estava ficando preocupado com o horário, mas respeitou, afinal estavam ali por uma razão festiva. Pelo menos não havia um bolo na mesa, o que poderia fazer a comemoração se prolongar mais. Serviu outra rodada de cerveja. O mais falante do grupo tomou coragem e pediu:
– Tio, me vê essa coxinha!
Era a única à disposição na redoma de vidro. Pedido atendido, o salgado veio dentro de um pratinho de louça. O rapaz sacou do bolso uma vela decorativa, plantou-a na coxinha com alguma dificuldade, acendeu-a e puxou o parabéns a você. O italiano também cantou e foi efusivo nas palmas.
Quis saber qual dos moços estava fazendo anos para dar os seus cumprimentos.
– Ninguém, seu Giuseppe! Viemos comemorar o aniversário da coxinha. Faz um ano que ela estava aí nessa estufa.
O italiano não gostou da brincadeira. Colocou todos para correr. Voltaram no dia seguinte para pagar a conta, com o barista mais calmo. A estufa, porém, já não estava mais no lugar.

Sem tirar nem pôr
O padre Arnaldo fazia seu sermão, prendendo a atenção de todos, dada à ênfase que dava em sua fala:
– Hoje a sociedade vive de disputas, e isso é a grande chaga do nosso tempo. A sociedade estimula a competição: quem tem mais dinheiro, quem tem mais poder. Aí a pessoa cai na ostentação, quer mostrar que tem mais dinheiro e poder que a outra.
Lá no fundo da igreja, o bêbado concorda:
– É igualzinho o que acontece no leilão da quermesse do padroeiro, né seu padre?

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