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Crônica da semana por Nilton Morselli

Goela abaixo

Fui lembrado de que o magnésio é um elemento químico de símbolo Mg, de número atômico 12 e com massa atômica 24 u. É um metal alcalinoterroso. Na verdade, só lembrava do símbolo, porque algum dia na vida tive de estudar a tabela periódica. Mas não imaginava que necessito, com urgência, tomar essa coisa amarga com um copo de água, fazendo cara feia. E o especialista fez ameaças de que, sem essa suplementação, amanhã mesmo posso bater as botas ou ficar seriamente doente.

Respirei fundo e, claro, não saí correndo para comprar magnésio. Porque sempre aparece algum doido mostrando os benefícios do óleo de melaleuca, das maravilhas do potássio e das vantagens do elixir de baicurú. E aí de quem desdenhar do poder de um chá de limão, folhas de louro e cúrcuma. Do furúnculo ao Alzheimer, a poção preveniria um amplo espectro de enfermidades sorrateiras.

Primeiro eles apareciam nos programas populares, que ocupam as tardes das TVs. Agora estão também nas redes sociais, nos recortes dos podcasts e onde mais a internet dá um jeito de chegar até nós. Quase sempre o objetivo é vender os livros com as tais receitas naturais. E você deve prestar a atenção, porque a próxima dica é valiosíssima para quem sofre de enxaqueca, bucho virado ou tripa seca. Vale para tudo – a diferença está na dose.

Mas também há os “bem-intencionados”, à procura de popularidade nas redes. Ensinam as receitas em troco de uma curtida. Quase sempre a descoberta é de uma universidade de Minas Gerais ou dos Estados Unidos, que nunca tem nome. Os estudos são invariavelmente conduzidos por uma abalizada equipe de pesquisadores, que se debruçaram anos a fio sobre as potencialidades do fósforo ou do óxido de zinco. O homem deve tomar duas cápsulas por dia e a mulher, apenas uma. Por que? Porque os homens têm mais enzimas digestivas e elas absorvem menos minerais ferrosos. Dos mesmos criadores do sal rosa do Himalaia podemos esperar outras invencionices.

A embromação é de arrepiar os cabelos dos médicos, pois o resultado pode ir muito além do efeito placebo. Mesmo porque tem muita gente que, a despeito da automedicação por fármacos tradicionais, não se furta de experimentar uma funcionalidade recém-saída de renomadas instituições mundiais e que só alguns alquimistas com livre acesso à mídia tiveram acesso. A eles, em nome da ciência e das boas causas da humanidade, coube o sublime papel de comunicar as novidades ao mundo. A saúde plena por 10 vezes de 120 reais no cartão não é mesmo uma pechincha?

O mercado dos suplementos movimenta bilhões, e quase toda essa dinheirama é diluída na urina e vai parar, portanto, no esgoto. Não sem antes passar pelos rins, que depois de um longo período de trabalho excessivo dá sinais de cansaço. Para poupá-los do esforço desnecessário, o primeiro filtro é sempre a boca, conforme aprendemos desde as primeiras séries da escola.

Há quem defenda o uso dos proteicos isolados, para dar uma força extra aos músculos. Mas tente convencer um nefrologista de que esses pós com gostinho de morango ou chocolate são inofensivos. Para quê trocar uma ilusão por uma alimentação balanceada, que dispensa aditivos supostamente naturais, destinados a engordar uma indústria insaciável?

Atire a primeira pedra quem nunca saiu da farmácia com frascos mágicos que oferecem trinta tipos de vitaminas. Afinal, todos os dias somos bombardeados com a notícia de que, com o tempo, o nosso organismo deixa de produzir alguma coisa sem qual, assim como a arara azul, seremos conduzidos à extinção sumária.

Sábia desde sempre, a natureza nos dotou com um sistema que absorve os nutrientes de que precisamos e descarta o excedente. Casos que não obedecem a essa lógica, após descobertos por exames, são tratados pelo médico, único que pode prescrever suplementações específicas. Fora isso, você provoca uma sobrecarga renal e, de quebra, faz um xixi mais caro.

Como resistir à tentação de desafiar a lei da gravidade com uma cápsula de colágeno hidrolisado antes de dormir? Vivemos numa Macondo, cidade fictícia do clássico “Cem Anos de Solidão”, e acreditamos em tudo o que o cigano Melquíades descobre em suas viagens pelo mundo e nos oferece como solução. Mas às vezes é bom lembrar que o que querem mesmo é o nosso dinheiro.

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