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Eleições de outubro: A IA Generativa no Marketing Político

Por Marcus Rogério de Oliveira*

Este artigo é o quarto da nossa série sobre Inteligência Artificial (IA) e eleições. Nos textos anteriores, exploramos como a IA generativa impacta candidatos e eleitores, além de analisar seu papel na aproximação entre esses dois grupos. Agora, abordaremos como essa tecnologia pode apoiar o marketing político.

A IA generativa é capaz de redefinir as estratégias de campanha, oferecendo aos candidatos ferramentas para criar conteúdo personalizado e engajador. Desde a produção de textos até a geração de imagens e vídeos, essa tecnologia permite uma abordagem mais dinâmica e adaptável às demandas do eleitorado.

Um exemplo prático de como a IA generativa pode ser utilizada é na criação de discursos. O candidato que deseja abordar as preocupações específicas de diferentes bairros em sua cidade poderia usar um prompt como este: “Crie um esboço de discurso de 3 minutos para o bairro Novo, que sofre com as chuvas focando em possíveis problemas de enchentes. Inclua dados relevantes e propostas concretas.”

Com base nesse prompt, a IA pode gerar um esboço de discurso adaptado ao bairro destacado e ao problema relatado, economizando tempo e recursos da equipe de campanha. É crucial refletir sobre as implicações éticas dessa prática, por exemplo, como garantir que as promessas feitas nesses discursos sejam genuínas e exequíveis?

Outro aspecto transformador da IA no marketing político é a análise de sentimentos em redes sociais. As campanhas podem usar a IA generativa para interpretar as reações do público a debates, entrevistas e propostas. Por exemplo, o usuário pode copiar e colar alguns comentários da rede social e gerar um prompt da seguinte forma:

“Analise os textos destes comentários sobre o candidato nas últimas 24 horas. Identifique os temas mais discutidos e o sentimento geral (positivo, negativo ou neutro) em relação a cada tema.”

A IA generativa também está dando grande apoio à criação de conteúdo visual para campanhas. Com prompts simples, é possível gerar imagens e até vídeos que ilustrem as propostas dos candidatos. Por exemplo: “Crie uma imagem que represente o prédio de uma escola autossustentável, com energia limpa e áreas verdes integradas ao espaço urbano.”

Essas imagens podem ser poderosas ferramentas de comunicação, mas também abrem espaço para a criação de cenários irrealistas ou manipulados. Como garantir que os eleitores possam distinguir entre visões aspiracionais e promessas concretas é um aspecto importante a ser considerado pelo candidato.

A personalização de mensagens é outra área onde a IA generativa pode causar grande impacto positivo. As campanhas podem usar dados demográficos e comportamentais para criar mensagens altamente direcionadas. Um prompt para isso poderia ser: “Gere uma mensagem para eleitores empresários, focado na preparação da cidade para o Natal, destacando como as propostas podem abordar suas possíveis preocupações.”

Podemos chamar isso de hiperpersonalização e certamente pode aumentar o engajamento, mas também levanta preocupações sobre a fragmentação do discurso político e a criação de “bolhas” informativas. Como manter uma estratégia coesa de campanha enquanto se comunica de forma personalizada com diferentes grupos?

Outra forma muito interessante é utilizar a IA generativa para simular cenários e testar estratégias de campanha. As equipes podem usar prompts como: “Simule os possíveis resultados de uma proposta de Ampliação de Vagas em Creches em termos de aprovação do eleitorado, considerando diferentes grupos demográficos da cidade.”

Essas simulações podem resultar em decisões estratégicas, mas também correm o risco de simplificar demais realidades complexas. O candidato deve garantir que essas simulações não substituam o contato real com os eleitores e a compreensão profunda de suas necessidades.

À medida que a IA generativa se torna uma ferramenta cada vez mais central no marketing político, é essencial que candidatos, equipes de campanha e, principalmente, eleitores estejam cientes de seu potencial e de suas limitações. A tecnologia pode amplificar mensagens e otimizar estratégias, mas não deve substituir a autenticidade, a empatia e o compromisso genuíno com o bem-estar da população.

O desafio das campanhas políticas consiste em encontrar um equilíbrio entre a eficiência proporcionada pela IA generativa e a manutenção da integridade do processo democrático. Cabe a todos nós, como cidadãos, permanecermos vigilantes e críticos, exigindo transparência no uso dessas tecnologias e valorizando o diálogo direto e autêntico com nossos representantes.

A essência da política continua sendo profundamente humana. O verdadeiro teste para os candidatos será usar a tecnologia não apenas para ganhar eleições, mas para governar de forma mais eficiente, responsável e atendendo às necessidades reais da população.

 

*Marcus Rogério de Oliveira é um renomado professor da Fatec de Taquaritinga, onde leciona desde 1995. Com um extenso currículo acadêmico, é Doutor em Biotecnologia pela UFSCar, Mestre em Ciência da Computação pelo ICMC-USP e Bacharel em Ciência da Computação pela Unoeste. Sua vasta experiência o tem levado a atuar em áreas como Banco de Dados, Desenvolvimento de Sistemas, Engenharia de Dados e Ciência de Dados.

 

(Imagem gerada por Inteligência Artificial)

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