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Crônica da semana por Nilton Morselli

A cara tradição dos ovos de chocolate

Como estão caros os ovos de Páscoa, reclamam os consumidores. Mas sempre estiveram, pelo menos os de marca mais afamada. Opta-se por comprá-los apenas para as crianças, porque elas gostam do formato até mais do que do chocolate. Essa tradição está em todos os lugares e salta aos olhos nas parreiras de ovos fora do alcance das mãozinhas infantis e dos bolsos menos preparados.

Quando eu era criança, fitava com ansiedade a abertura do ovo, sempre dividido com dois irmãos, esperando que alguma coisa além do esperado aparecesse. Surpresa zero, porque já sabia que havia bombons preenchendo as duas metades daquela felicidade efêmera. Estas eram tão finas que faziam lembrar a casca de um ovo de galinha.

Aquele era um momento solene, aguardado por um longuíssimo ano. Ele ficava escondido em algum lugar da casa, que sabíamos onde era. Íamos olhá-lo duas, três vezes por dia, contemplando a beleza do celofane colorido que o envolvia. Ninguém mexia, segurando a quase incontrolável vontade de devorá-lo. Após o almoço dominical, a apoteose.

Suponho que, naquela época, o ovo pascal era artigo de luxo e, portanto, caro para o bolso de qualquer assalariado. Caso contrário, todas as crianças da casa ganhariam o seu. Mas a divisão era igualitária e os presenteados, generosos: os bombons podiam ficar com os adultos, que evidentemente também gostavam de chocolate. E em casa ninguém tinha intolerância a nada.

A indústria se aproveita disso tudo e desenvolve produtos cada vez mais sofisticados. Alguns vêm com brinquedos, outros com recheios trufados. O preço, claro, é mais amargo que cacau 100%. Acrescido dos impostos, o valor fica proibitivo para muitas famílias. Daí a necessidade de o poder público presentear meninos e meninas de escola pública com o quitute típico, que acreditam seja trazido pelo coelhinho que vive na floresta.

Esperto como ele só, o mercado sabe agregar valor apenas dando um formato diferente para um produto largamente consumido fora dessa época especial. Duzentos gramas de chocolate em barra saem por módicos 15 reais. O mesmo peso, na forma de ovo, custa para lá de 60 reais. Adultos sabem disso, mas vá convencer uma criança. Se for para comprar, recomendo os ovos caseiros, dando uma forcinha para os amigos talentosos que tiram uma graninha extra nessa época.

A tradição dos ovos de Páscoa certamente ao longo dos tempos, apesar das inovações tecnológicas. O preço segue como uma barreira, mas é importante lembrar que a essência da Páscoa vai além disso. É uma época de compartilhamento, amor e renovação, em que gestos simples de generosidade podem superar qualquer extravagância comercial. Talvez seja hora de reavaliar o significado por trás das guloseimas, priorizando a conexão e a gratidão sobre a ostentação material.

Foto: Freepik

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