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Crônica da semana por Nilton Morselli

Um novo traje para o Papai Noel

A quem disser que esse não é assunto premente, recomendo fazer uma busca por notícias para constatar o quanto de Papai Noel passa mal durante o trabalho. Todos os anos há casos de profissionais e amadores que desmaiam de calor. Também, pudera: ele sai da Lapônia, no norte da Finlândia –onde, neste momento, está fazendo 4 graus negativos– e vem para um país tropical com o objetivo de cumprir a agenda anual de entrega de presentes.

Quando está no shopping, em ambiente climatizado, o bom velhinho ainda consegue um refresco. Atende a todas as crianças e alguns adultos com privações na infância sem enfrentar agruras com a temperatura. Preocupa-me, porém, aqueles que estão nas ruas, nas chaminés, nos trenós a motor, a cavalo, de bicicleta, muitas vezes sob sol inclemente.

Distribuir brinquedos, balas, pirulitos, acenos e sorrisos nessas condições não é brincadeira. À falta de um sindicato de papais noéis que defenda os direitos da categoria, aqui estou advogando por uma causa justa: precisamos urgentemente desenvolver um traje apropriado ao nosso clima.

A gota d’água para essa pressa toda, como você já deve estar imaginando, é essa onda de calor que invade o hemisfério sul a cada fim de ano. Por ironia do destino, o vilão da história é o El Niño –O Menino–, a esquentar as águas do Pacífico Equatorial, influenciando diretamente na qualidade dos ventos alíseos.

Esse Menino, primo-irmão do aquecimento global, não tem não se comportado bem e nem merece presente. Neste ano, por exemplo, deixou outubro e novembro na casa dos 40 ºC, e dezembro também está mais quente do que o normal. Pobre Papai Noel, que às vezes sucumbe à desumana amplitude térmica a que é submetido ao irromper o território nacional.

Como se sabe, o personagem como o conhecemos fez parte de uma campanha publicitária da Coca-Cola. A empresa pediu para o artista Haddon Sundlom dar-lhe uma nova roupagem, um perfil robusto e um rosto bonachão. Fez tanto sucesso que as outras representações papainoelísticas foram sumariamente varridas. Essa é a imagem que está no imaginário das gerações a partir de 1931.

Mas, por uma questão de adaptação regional, já está na hora de criarmos uma nova vestimenta para esse símbolo de bondade. Começaria aparando a barba branca, que é comprida demais, geralmente se juntando com o bigode. Alguém poderá argumentar que ela faz parte do disfarce. (Atenção: mantenha essa crônica fora do alcance das crianças.) É só não chamar o vizinho ou o tio para o papel, porque seriam facilmente reconhecidos sem aquele excesso de pelos desgrenhados na cara, com tufos entrando pelas narinas.

Uma barba mais moderna, aliada a uma camiseta branca de meia manga, com detalhes em verde e amarelo, daria um tom mais leve e abrasileirado a São Nicolau, que é a verdadeira identidade dele. Uma bermuda que combinasse com a parte de cima completaria o uniforme, o que evidentemente dispensaria as sisudas botas para neve. Sandálias de amarrar cairiam melhor e não comprometeriam a velocidade necessária para dar conta das encomendas de Natal.

Perceba que o conjunto ficou mais harmônico, já que as renas que puxam o seu trenó não usam roupas, nem aqui nem na Lapônia ou nos EUA, onde também costuma nevar na época do Natal. As renas aladas, portanto, devem gostar do giro que fazem por aqui, longe dos termômetros abaixo de zero.

Outra coisa que deixa o Papai Noel esbaforido no nosso verão causticante é aquele quentíssimo gorro comprido com polaina de branca na testa e um pompom na ponta. Nada a ver. Um simples boné resolveria a questão do conforto térmico. Mas se um boné vermelho poderia dar margem a uma confusão com o MST, é só mudar a cor. Assim, não veríamos mais bons velhinhos –quase sempre sem plano de saúde– tendo de ser levados às pressas para pronto-socorros, com desidratação e queda de pressão.

Quanto ao saco de presentes, já meio pesado para a idade, juro que não cheguei a uma conclusão. Um Pix, talvez. Cartas para a redação.

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