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Crônica da semana por Nilton Morselli

Uma árvore, por favor

O calor fora dos padrões com que estamos sendo castigados nos últimos dias tem um lado bom. Muita gente caiu na real a respeito das mudanças climáticas, que até então eram coisa de alarmista, fruto da polarização política. A natureza, além de sábia também é democrática: não deixa ninguém de fora de suas benesses e de seus danos.

A ação nociva, no caso, é o homem que vem provocando, como já fomos abundantemente advertidos pelos cientistas. Não é de hoje que estamos estragando o planeta. Terra, ar, água, nada escapa à nossa sanha destrutiva. Os animais injustamente acusados de ser irracionais são os primeiros da cadeia a pagar a conta.

Como se pudéssemos passar ao largo desse ecossistema corrompido, vivemos como se não houvesse amanhã. Confiamos no ar-condicionado até o dia em que a energia elétrica colapsar pelo uso excessivo –ou a concessionária não der conta de reparar rapidamente os estragos de um vendaval, o que acabamos de acompanhar na capital paulista. É bem mais cômodo culpar a empresa. E assim seguimos tentando enganar a nossa consciência.

Evitei tirar o carro da garagem esses dias para que não ficasse horas sob o sol de 40 graus e sensação térmica de 50. As sombras das árvores que ficam em frente à academia que frequento ou nas imediações do meu trabalho são disputadíssimas. Melhor lavar um cocô de passarinho do que ver as partes de borracha derretendo.

Taquaritinga é muito pouco arborizada, principalmente o centro. Não é somente pelos carros, mas para dar escala humana ao ambiente em que vivemos, que as árvores são essenciais. Mas sua função biológica primordial –a fotossíntese– ficou esquecida no ensino fundamental. Então vamos lá: o vegetal captura a energia solar. Essa é a principal porta de entrada de energia na biosfera.

Mas a maioria das pessoas não leva nada disso em consideração. Nunca pararam para pensar que as árvores ajudam a regular a temperatura. Só lembram de que elas fazem sujeira, e varrer folhas na calçada é um exercício para o qual a vida moderna não oferece tempo.

Taquaritinga tem uma legislação interessante. Destaque para a Lei Complementar 4.570, de 10 de janeiro de 2019, de autoria dos vereadores Rodrigo De Pietro e Wadinho Peretti. Ela concede um benefício tributário ao morador que adotar uma série de medidas ambientalmente corretas. Mas essa lei, que ganhou o apelido de IPTU Verde, dorme em berço esplêndido.

Outra normal legal, em ambos os sentidos, é o Decreto 5.257, baixado pelo prefeito Vanderlei Mársico em 22 de abril de 2021 (coincidentemente, quando se comemora o Dia Internacional da Mãe Terra, um evento da ONU). Ele regulamenta a Lei Municipal 3.782, de 2009 (Projeto Município Verde-Azul), elaborada na gestão do prefeito Paulo Delgado, que estabelece como regra para obtenção do Habite-se o plantio de árvores. Veja o que diz o Art. 18: os projetos de construção, reforma ou ampliação de prédios em áreas urbanas já consolidadas deverão contemplar o plantio de pelo menos uma árvore para cada dez metros lineares de calçada.

Paralelamente às obrigações e vantagens regidas por lei, seria interessante se a cidade lançasse uma campanha permanente de incentivo à arborização. Quem sabe o resultado fosse uma conscientização pelo bem, antes que a conta apresentada pela natureza fique ainda mais salgada do que já está. Claro, pela extensão territorial de Taquaritinga, não salvaríamos o planeta, mas faríamos a nossa parte.

Pelo menos quanto às previsões climáticas nada animadoras, o futuro que parecia tão distante bateu à nossa porta. Chegou chegando. E pensar que nossa geração fazia piada sobre a degradação da camada de ozônio, a devastação da Amazônia, o degelo das calotas polares da Antártida. A natureza sempre ri por último, enquanto nos resta chorar. A menos que governos e populações repensem essa relação com seriedade.

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