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Crônica da semana por Nilton Morselli

Quem ama não mata. Nem se mata

Quem foi embora de sua vida lhe fez um favor. Não há nenhum sentido de provocação nessa frase, apenas a constatação de que cada um é responsável pela própria felicidade e, de quebra, pode ajudar ao outro também ser feliz, livre de um relacionamento que não está sendo tão bom quanto poderia. E vida que segue.

É muito triste ver jovens cometendo suicídio quando da ruptura de um namoro. Talvez essa seja apenas a tal gota d’água, se investigar mais a fundo outros problemas também fizeram parte desse caldo de melancolia que descambou para a decisão tão errada, sob todos os pontos de vista.

Um suicídio abala demais a família, que quase sempre carrega uma culpa que raramente tem. Culpa por ter, de alguma forma, colaborado para o triste desenlace. Culpa por não ter percebido que aquele ser sem experiência de vida enfrentava um conflito emocional. O “ex” ou a “ex”, que teria sido o pivô da crise, também acaba por carregar o peso.

O amor – ou a sua antítese – não é motivo para matar ou morrer. Quem o faz está mais amparado no orgulho ferido do que na tristeza natural que se segue ao rompimento de um namoro ou casamento. Não permitir que o outro sobreviva para ser feliz sozinho ou ao lado de alguém é egoísmo.

O escapismo capital, por sua vez, é um recurso controverso. Quem se mata não quer fugir da vida, mas do suposto problema. Espíritos que cometeram o ato tresloucado e que puderam se comunicar do mais além manifestaram profundo arrependimento. Ao homem não é permitido decidir sobre a continuidade da vida – de outrem ou de si mesmo. (A quem não acredita na possibilidade dessa comunicação, a amizade é a mesma.)

O término de uma relação, seja na juventude ou qualquer outra idade, é apenas um sinal de que novas possibilidades virão. Não é o fim da linha. Forçar a permanência com uma pessoa que está infeliz, isso sim, é um flagelo – para as duas. É necessário reconhecer que encerrar ciclos e até mesmo romper laços também é um ato de amor.

O ser humano é extremamente passional. Desde Freud, sabemos que quase todas as decisões da vida estão ligadas, de alguma forma, ao relacionamento amoroso. Mas temos o dever de – o mais racionalmente possível – colocar a vida acima das paixões ou de qualquer arroubo que implique seu fim. E vida que segue.

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