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Crônica da semana por Nilton Morselli

Entre palavras e melodias

Na tranquilidade de um dia frio de feriado, na cidade escondida entre montanhas e banhada pelo suave murmúrio de um rio, o homem saiu para dar um passeio. Queria ser contador de histórias, para não desperdiçar a habilidade que acreditava possuir: capturar emoções e transmiti-las por meio das palavras. Era um sonhador, e tinha um coração que se equilibrava entre bons sentimentos e o tédio da vida solitária.

Pelas ruas de paralelepípedos que ainda restavam no centro, viu uma cena que chamou sua atenção. Era um casal de idosos, sentados em um banco de praça, olhando para o horizonte com olhares carregados de nostalgia. Curioso, aproximou-se devagar, sem querer interromper o momento que parecia tão especial.

Mas foi notado e respondeu ao bom dia. Seriam novos moradores ou estavam a passeio? Puxou conversa. Marta e Pedro eram seus nomes, e por sorte eles gostavam de falar. Ficou ali alguns minutos, o suficiente para ouvir algumas histórias de amor. O rosto de ambos, permeados pelas rugas que denunciavam anos de cumplicidade e devoção um ao outro, se iluminava com as lembranças. O homem se encantou com os detalhes, pois neles havia uma aura de ternura, capaz de atravessar o tempo e tocar a alma de quem os ouvia.

Marta contou como conheceu Pedro em uma noite de inverno, quando seus olhares se cruzaram em uma livraria. Era como se o universo tivesse conspirado para uni-los, e desde então suas vidas se entrelaçaram em uma jornada repleta de altos e baixos. Eles superaram desafios, compartilharam sonhos e envelheceram juntos, mantendo o amor vivo em seus corações.

Pedro, com um brilho nostálgico nos olhos, lembrou-se de uma canção que costumava cantar para ela todas as noites, quando eram jovens. Ele entoou a melodia com uma voz trêmula, e Marta se juntou a ele, transformando aquele momento em um dueto de pura emoção. Os acordes flutuavam pelo ar, transportando o homem que procurava histórias para um mundo onde as palavras e melodias eram capazes de transcender as barreiras do tempo.

Ao fim da tarde, o sol se punha no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados e dourados. Então despediu-se do casal, agradecendo pela prosa. Enquanto caminhava de volta para casa, sentiu-se profundamente inspirado pela força e beleza daquele encontro. Há histórias que nos envolvem como brisa suave, tocando nossa alma e nos lembrando da beleza que, de alguma forma, em todos existe. Assim é o amor, transcendendo o tempo e deixando marcas eternas em nossos corações.

Na mesma noite, sentou-se em frente ao seu computador e começou a escrever. As palavras fluíam rapidamente, dando vida a uma crônica que parecia capturar a essência do amor verdadeiro. Mas palavra nenhuma era capaz de descrever os olhares ternos de Marta e Pedro, a melodia que ecoava em suas almas e a promessa – cumprida – de permanecerem juntos, mesmo diante dos desafios.

Ao concluir o texto, sentiu uma mistura de satisfação e gratidão. Ele sabia que havia, a seu modo, transmitido algo grandioso por meio de suas palavras, inspirado pelo poder das histórias e pelo exemplo de amor genuíno que presenciou. Sentiu-se renovado em sua própria jornada sentimental, na certeza de que escrever era uma maneira de driblar a solidão. Percebeu que o verdadeiro valor das emoções está em compartilhá-las com alguém, em abraçar a vulnerabilidade e em celebrar os momentos de conexão que permeiam a existência humana. Porque, no fim das contas, a essência da vida não guarda mistérios. Está na simplicidade das coisas autênticas.

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