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Crônica da semana por Nilton Morselli

Minha primeira vez

Tocado pela idade e pela propaganda do Novembro Azul, marquei uma consulta com o urologista. Chego ao consultório com o coração um pouco acelerado, pensando no momento, naquela hora tão comentada nos churrascos, alvo de piada entre os amigos. Algo que parecia tão longe de nós, jovens muito bem resolvidos e saudáveis, coisa de uma terra habitada somente por essa gente estranha como nossos pais. Mas o tempo voa e o dia chega. Chega para todo mundo que passa dos quarenta e, meu Deus, já enxerga os cinquenta ali na frente.
Na sala de espera, nem há tempo para hesitação. Rapidamente ouço meu nome. É a minha vez. Acho que estou suando frio. Sou recebido efusivamente pelo médico, amigo e colega de trabalho: Dr. José Maria Modesto, 40 anos de profissão em 2022. Segue-se ao dedo de prosa o pedido para que o acompanhe à sala contígua, um local mais reservado. Sigo as instruções e, claro, fazendo e ouvindo piadas, atendo o pedido para colocar os cotovelos na maca. E relaxar. Claro, relaxar. A posição, evidentemente, é meio constrangedora para os padrões da sociedade machista em que somos criados. Não tem como negar.
É desferido o rápido e certeiro toque do dedo protegido por uma luva cirúrgica. Em questão de segundos, minha próstata é examinada. Sinto apenas um desconforto no baixo-ventre, como uma leve cólica, que passa rapidamente. Ressalto aqui em alto e bom som aos privilegiados que estão lendo esta crônica: não dói nada. O receio que nutri por anos de repente cai por terra. A teoria da conspiração que impõe tabus contra o exame de toque retal não resiste à prática, principalmente quando se está diante de um profissional tarimbado.
É preciso ser muito macho para não somente admitir, mas também para dizer publicamente que foi ótimo. Foi ótimo ouvir que está tudo bem, que minha próstata é de um jovenzinho. A confirmação viria dias depois, na bateria de exames complementares, entre os quais o de PSA (Prostate-Specific Antigens, na sigla em inglês). Bem abaixo dos valores de referência, o teste sanguíneo comprova o que eu desejava. Saio do retorno feliz e com a certeza do dever cumprido.
Compartilhar essa experiência é importante neste que é o mês voltado à saúde do homem. O toque retal é muito mais confortável do que, ao adiar essa recomendação, ter de se submeter à punção da próstata para retirada de material destinado à biópsia, casos em que já se constatou alguma alteração importante. Essa comparação foi feita por um amigo que passou por isso e lamentou ter driblado as consultas no tempo preconizado.
Não se descuidar da saúde é um gesto de amor-próprio, livre de tabus. Muitos não fazem o exame por preconceito, por achar que ele fere de alguma maneira a masculinidade. Bobagem. No dia seguinte, nem tive vontade de mandar flores para o Dr. Zé Maria.

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