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Crônica da semana por Nilton Morselli

O futuro já começou

Sustentabilidade é uma palavra que entrou de vez nas nossas vidas. Se ainda não mudou, ela vai mudar a forma como encaramos muitas coisas do dia a dia, da forma com que usamos o carro até quantos minutos levamos para tomar um banho. Muitas empresas já têm o seu comitê para tratar do assunto e os órgãos públicos logo serão obrigados a criar esses grupos, destinados a gerenciar insumos e campanhas de cidadania. Não se fará uma obra pública sem o parecer do comitê. O simples aproveitamento da luz do sol para iluminar um ambiente é uma providência que não pode mais passar despercebida. A abolição do uso de garrafas e copos plásticos nas repartições é obrigação de gestores responsáveis – para ficar apenas nas coisas elementares.
O conceito de ESG (environmental, social and governance, na sigla em inglês) já foi incorporado nas grandes e médias companhias. Ele norteia as políticas de meio ambiente, responsabilidade social e governança em relação ao mercado e à sociedade em geral. O assunto é seriísimo (assim mesmo, com dois ís). Os recursos naturais estão dando sinais de fadiga. Veja só o exemplo da água. Não são raros os casos de escassez nas propriedades rurais, onde antes havia abundância. A despeito das leis ambientais, é o resultado da destruição de nascentes e da falta de cuidado com as matas ciliares, às vezes a quilômetros de distância. A degradação se expande geograficamente, atingindo a todos, culpados e inocentes.
As mudanças climáticas são uma realidade, embora os negacionistas prefiram ignorá-las. A alteração no regime de chuvas é uma consequência. Está chovendo cada vez menos, fenômeno que não é isolado. Não vai demorar para que o abastecimento de água às populações se torne um grande problema. E não pense que isso é um prognóstico válido somente para os grandes centros urbanos.
Nossa região, cujos subterrâneos são banhados pelo Aquífero Guarani, viveu uma expansão desmedida de poços artesianos pelas empresas de abastecimento, em detrimento da captação em superfície (água de rios). Porém, o abuso dessa estratégia já tem demonstrado que ela precisa ser revista. E com urgência. As bombas de sucção têm de ser afundadas cada vez mais porque os mananciais apresentam volumes menores, ano após ano.
Quem acredita que se isso (ainda) não seja motivo de preocupação, saiba que o alarme já soou em muitos lugares. Passou da hora de a sociedade, juntamente com os poderes públicos, começar a discutir caminhos para evitar um colapso futuro. Quando as soluções são pensadas com antecedência, é melhor para todos os envolvidos. Nesse caso, quem abastece e quem é abastecido pelo líquido essencial. É por isso que água potável e saneamento constituem o sexto dos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas).
Esses temas você não verá em campanha política alguma: como está a “saúde” dos poços de captação de água da sua cidade? É necessário abrir novos? Ou é melhor investir em captações superficiais que utilizem a gravidade em vez de energia elétrica? Os pontos de reposição dos lençóis freáticos estão mapeados? Se estão, eles são preservados? Quantos por cento da produção se perde em vazamentos da tubulação urbana? A companhia de água e esgoto produz energia fotovoltaica para o funcionamento de suas bombas? A perfuração de poços clandestinos está sendo fiscalizada? A política de preços é condizente para fazer frente aos custos de tratamento e distribuição? A água não pode ser cara a ponto de tornar-se inacessível nem tão barata a ponto de estimular o desperdício.
Nossas cidades, assim como as empresas subsidiárias de serviços essenciais, têm um papel preponderante na preservação dos recursos naturais renováveis e no uso de insumos da maneira mais racional possível. Essa é a definição clássica do que chamamos de desenvolvimento sustentável. Não só a subsistência das futuras gerações está ameaçada, como a falta de cuidados básicos com o meio ambiente significa desperdício de dinheiro. Dinheiro, aliás, é outro recurso limitado, seja no bolso do contribuinte ou nos cofres do erário. São pensatas desse tipo que nortearão, a partir de agora, a escolha de homens e mulheres que se prontificam a nos governar.

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