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Crônica da semana por Nilton Morselli

Incêndio e recomeço

Eu era criança ainda e curtia uma piscina na casa dos meus primos quando, no meio da tarde, senti fome. Fui para casa e pedi dinheiro à minha mãe para comprar pão doce na Padaria São Sebastião, que ficava a poucos quarteirões de onde morava. Eu já estava sendo atendido quando uma pessoa entrou correndo e gritando “fogo, fogo!”. Tratava-se de um incêndio nas imediações, concluí.
Com o embrulho nas mãos, fui até a calçada e vi que as pessoas se aglomeravam. Juntei-me aos curiosos e fiquei observando do outro lado da calçada. O incêndio consumia rapidamente o Supermercado Nakashima, na Rua Siqueira Campos. Na fachada do prédio, se lia “secos e molhados”. Era um armazém onde eram vendidos centenas de itens e que a gente frequentava quase todos os dias.
Não havia corpo de bombeiros em Taquaritinga. Até que algum socorro chegasse, nada sobrou do antigo e tradicional estabelecimento, além de algumas paredes condenadas. Era a primeira vez que testemunhava uma tragédia, que graças a Deus não fez nenhuma vítima. Foi no dia 6 de janeiro de 1986.
Fiquei por ali por algum tempo, deve ter sido bastante, a ponto de causar preocupação à minha mãe. Lembro dela vindo me procurar na multidão. Eu poderia ter ido ao Nakashima, em vez de na padaria, para comprar o bendito pão doce, iguaria que aprecio até hoje.
Dona Nadir ficou sabendo do incêndio pelas ondas da Rádio Clube Imperial, que mandou sua reportagem ao local para transmitir notícias do infausto acontecimento. Mas as chamas e o cheiro de queimado podiam ser notados de todos os quadrantes do bairro Farwest e redondezas.
Conduzido de volta para casa, fiquei ouvindo os boletins da então única emissora da cidade. Não demorou para que seu Tomokiro Nakashima e família reerguessem o negócio literalmente das cinzas, demonstrando a obstinação e a tenacidade típicas do povo de ascendência japonesa. No mesmo lugar, surgiu um prédio moderno para abrigar um bem montado comércio, mais amplo, iluminado e arejado.
Era lá, pertinho da Escola Estadual Francisco Silveira Coelho, que nas primeiras horas da manhã eu comprava folhas soltas de papel almaço com pauta para fazer as provas do Ensino Médio. Comprava muitas outras coisas. Um pouco antes de seu Tomokiro falecer, em 2015, o estabelecimento havia encerrado as atividades. A família Nakashima, numerosa e atuante, é uma das que mais contribuíram com o progresso de Taquaritinga.

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