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Crônica da semana por Nilton Morselli

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O construtor da paz

Avesso a polêmicas e trabalhando incansavelmente pela evangelização dos taquaritinguenses, o padre João Francisco da Silva é uma daquelas bênçãos que se deve pagar de joelhos. A cidade que teve o privilégio de recebê-lo antes mesmo de se tornar diácono tem também o prazer de conviver com ele há 43 anos ininterruptos. Padre João jamais quis arredar pé daqui, nem mesmo quando recebeu convites para ascender na carreira eclesiástica. É um caso raro de padre que permanece na primeira paróquia a que foi designado. Sorte dos cristãos locais, que veem em sua liderança sempre serena uma forma de proteção espiritual, um amigo a quem recorrer a qualquer hora.
Filho do casal Moacir Batista da Silva e Aparecida Candeias Freire da Silva, o pároco emérito da Paróquia São Sebastião nasceu em Pitangueiras, em 23 de junho de 1949. Tem um irmão mais novo, Paulo Roberto, casado e pai de três filhos. Escritor – em 2013, lançou o livro “Sementes”, uma compilação de crônicas –, e cantor com três CD gravados, o último, “Eis-me aqui, Senhor”, em dezembro de 2007, o padre é devoto de São Francisco de Assis, o santo cuja humildade inspirou o atual papa. A longa história de amor de João Francisco por Taquaritinga e sua gente começou no fim da década de 1970, e, para nossa sorte, não tem data para terminar. Com a saída do monsenhor José Sala, em outubro de 1985, ele assumiu a condução da paróquia, sendo confirmado no cargo na antevéspera do Natal de 1985.
Sua história com Taquaritinga começa em 7 de fevereiro de 1979, quando João Francisco veio para Taquaritinga à espera da ordenação. Em 31 de março, foi ordenado diácono, e, no dia 21 de julho do mesmo ano, tornou-se padre. Na quinta-feira da próxima semana, portanto, o padre João Francisco completará 43 anos de vida presbiteral. Eis o motivo desta homenagem e de todas as outras que receberá.
Em dezembro de 2015, tive a oportunidade de fazer uma longa entrevista com o padre João Francisco. Já tínhamos terminado quando ele comentou: depois de tanto tempo, vou deixar de ser o pároco. Perguntei se eu tinha ouvido direito. Sim, era isso mesmo. Sem esperar, fui o primeiro a dar a notícia que ainda ninguém – ou pouca gente – sabia. No começo de 2016, ele assumiu como vigário.
Seus pais não poderiam ter tido melhor inspiração ao batizá-lo de Francisco, nome do santo que simboliza a humildade. Por sinal, o santo de sua devoção. Foi por esse motivo que o papa o escolheu. (Chico Xavier tinha uma tirada a respeito da simplicidade que o nome carrega: “Tira o Fran e fica um Cisco”.) Embora parcimonioso nos gestos e nas palavras, padre João Francisco é um gigante. Construiu inúmeras igrejas e reformou a Matriz de São Sebastião. Sob sua gestão, a paróquia-mater (instalada em 1898) pariu outras três: a São Francisco de Assis e a São Pedro Apóstolo, em 1994, e a Santa Luzia, dois anos depois. Em 2012, surgiu a quinta circunscrição católica, a Sagrada Família de Nazaré, que abarcou partes da comunidade de Santa Luzia.
Só por esses trabalhos o padre João já teria escrito seu nome na história da cidade. Mas ele fez mais, muito mais. Sua maior obra é humana, muito além dos tijolos e do cimento necessários para erguer templos religiosos. Uma missão toda ela vivida em Taquaritinga, cidade em que chegou muito jovem. Foi conquistando corações e o respeito das pessoas de todos os segmentos religiosos. Quem procura por seus conselhos sempre recebe uma palavra reconfortante para seguir em frente e dar a volta por cima – e digo isso por experiência própria. Opa, caiu uma lágrima aqui.
Radialista e cronista, colabora com a imprensa. Foi diretor espiritual do Seminário Propedêutico de Jaboticabal, incentivou pesquisadores a desbravar a história da Paróquia São Sebastião, que se mistura à trajetória da cidade. As primeiras terras, em 1868, foram consagradas a São Sebastião dos Coqueiros. Faz tudo isso às voltas com problemas oculares, superando a todos eles com a resignação dos que perseveram na fé. Desde os oito anos de idade nunca parou de trabalhar: em loja de artigos de presente, farmácia, mercadinho, quitanda e em bar durante muitos anos, em sua terra natal.
Já como professor, aos 18 anos, sentiu o ardor da vocação sacerdotal. Aos 23 foi para o seminário de São Carlos, onde estudou filosofia por três anos. Em São Paulo, por igual período, cursou teologia durante o dia e, à noite, licenciatura plena em filosofia. Essa sólida formação em humanidades fez dele um profundo conhecedor da alma do rebanho que conduz com amor, um soldado da paz sempre disposto a aliviar as nossas dores emocionais. No longo bate-papo que tivemos, confessou-me também mais um de seus gestos de humildade. Disse que quando não puder mais fazer o que gosta – trabalhar na edificação do Reino de Deus – sua ideia é fazer uma trouxinha de roupas e se mudar para o Asilo São Vicente de Paulo, lugar que visita frequentemente para acalentar os moradores. Que esse dia demore a chegar.

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