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Crônica da semana por Nilton Morselli

Sai pra lá, asteroide

A humanidade respirou aliviada ao saber que o asteroide 2024 YR4, com seus quase 70 metros de diâmetro, não colidirá com a Terra. O alívio, porém, durou pouco. Segundo astrônomos, o bloco errante do espaço mudou seu trajeto — e agora estaria em rota de colisão com a Lua, o que poderia acontecer em 2032.

Sim, a nossa Lua está ameaçada. A mesma que inspira poetas, move oceanos, regula o calendário agrícola e, convenhamos, dita até o melhor dia para cortarmos o cabelo. O impacto de um asteroide desse porte não seria suficiente para despedaçar o nosso satélite natural — felizmente —, mas é provável que deixasse uma marca significativa. Um novo buraco em sua superfície, maior do que aqueles espalhados pelas ruas da nossa cidade. A Lua, que já carrega cicatrizes milenares, ganharia mais uma ruga em sua longa história.

As consequências para nós, aqui embaixo, podem parecer pequenas, mas não são irrelevantes. As marés, reguladas pela dança gravitacional entre Terra e Lua, poderiam sofrer alterações. Ondas um pouco mais inquietas ou ritmos diferentes nos ciclos das marés já seriam o suficiente para incomodar pescadores, navegadores e moradores de costas oceânicas.

A Lua, que nos guia com seu preciso e silencioso relógio de fases, pode ver esse ciclo ligeiramente alterado. Não seria o fim do mundo – já teríamos escapado dele algumas vezes, antes de a ciência iniciar o monitoramento —, mas exigiria ajustes. Os estudiosos refariam seus cálculos, os fotógrafos noturnos buscariam novos ângulos e os que enxergam em seu relevo a figura de São Jorge combatendo o dragão talvez precisem de um pouco mais de imaginação para manter viva a tradição.

A colisão, se ocorrer, também pode afetar as telecomunicações. Mudanças sutis na órbita lunar podem interferir em satélites que operam em sincronia com o sistema Terra-Lua. Nada catastrófico, é verdade, mas em tempos de hiperconectividade, até alguns segundos de instabilidade já parecem suficientes para lançar boa parte da humanidade em um leve desespero existencial.

A Lua é mais do que um corpo celeste: ela regula crenças, calendários e costumes. Em algumas regiões, planta-se e colhe-se de acordo com suas fases. Eu, por exemplo, prefiro cortar o cabelo na fase crescente, mas tem quem acredita em novos ciclos de vida a partir do movimento lunar. Se mudar sua aparência — ou seu comportamento —, o impacto pode ser mais emocional que físico. E talvez esse seja o mais profundo de todos.

No fim, a esperança é que essa seja apenas mais uma previsão que o tempo tratará de desmentir. Como tantas outras que já ouvimos sobre o fim do mundo, choques de astros ou ameaças vindas do espaço. A história registra dezenas delas — e o cinema, claro, também. Quem não se lembra de “Armageddon”, aquele clássico em que Bruce Willis salva a Terra com uma broca e um sacrifício heroico? Certeza que algum roteirista de Hollywood já está de olho na história do YR4.

Por aqui, vamos torcer para que o pedregulho espacial siga seu caminho discreto pelo cosmos até que encontre um buraco negro que o devore. Assim ficaremos em paz com nossas marés e nossas lendas. Queremos a Lua intacta e bela. A propósito, vocês viram como ela estava visível na terça-feira às oito horas da manhã?!

(Imagem gerada por IA)

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