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Crônica da semana por Nilton Morselli

1902 e 2023

O julgamento dos envolvidos nos atos violentos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, que tomaram as dependências dos três poderes da República, apresenta um paralelo interessante com a Revolução Monarquista de 1902, um movimento que envolveu diretamente Taquaritinga. Os participantes do tresloucado levante ocorrido há 123 anos acreditavam que teriam força para restaurar o Império, treze anos após a Proclamação da República.

Embora os contextos histórico, político e social sejam distintos, é possível identificar semelhanças nas motivações dos envolvidos em ambos os episódios, especialmente no que se refere ao desejo de contestação da ordem estabelecida e ao uso da violência como instrumento de luta por interesses próprios.

O movimento de 8 de janeiro foi orquestrado por radicais que, inconformados com o resultado das eleições presidenciais de 2022, estimularam outros a partir para o quebra-quebra. Presos no mesmo dia, muitos acabaram acusados de tentativa de golpe de Estado para depor o governo eleito democraticamente. A ação tinha como objetivo minar as instituições democráticas e subverter a ordem constitucional. Da mesma forma, a Revolução Monarquista de 1902 foi também uma manifestação de insatisfação e resistência ao governo vigente.

No caso de 2023, um grupo foi levado a acreditar que as urnas eletrônicas haviam sido fraudadas e que o governo que assumia não era legítimo. Em 1902, a Revolução foi uma reação ao centralismo republicano e às políticas do governo que não atendiam aos interesses locais, especialmente os de elites provinciais que se sentiam desprestigiadas.

Ambos os movimentos buscavam fazer justiça com as próprias mãos. O tipo de violência empreendida também mostra semelhanças: os golpistas de 2023 utilizaram a depredação do patrimônio público, como o ataque ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal, como forma de protesto e subversão da ordem. Por sua vez, a Revolução Monarquista tomou alguns setores, como a delegacia de polícia e estação de trem da cidade.

A maluquice de 1902, que começou na noite de 22 de agosto e adentrou a madrugada seguinte, centralizou-se em Taquaritinga – ainda chamada de Ribeirãozinho – e Espírito Santo do Pinhal, mas atingiu outras localidades próximas. O episódio está bem retratado em memorável livro do Prof. Milve Peria.

Em menos de 24 horas, a tentativa de revolução foi sufocada pelas forças oficiais. Foram denunciadas 104 pessoas com base no relatório do chefe de Polícia, Dr. José Cardoso de Almeida, que concluiu que os monarquistas queriam a deposição do governo do Estado e da República. Menos de um mês depois, em 15 de setembro, Dr. Bernardo de Campos, procurador da República, denunciou 97 deles: 27 pessoas de Taquaritinga, 40 de Espírito Santo do Pinhal, 11 de Araraquara, 8 de Araras, 4 de Mogi Mirim, 2 de Itápolis, 2 de São Carlos, um de Rio Claro e 2 da capital paulista, pelo “crime de tentar diretamente e por fatos mudar por meios violentos a Constituição da República, ou a forma de governo estabelecida”.

Tanto as lamentáveis cenas do 8 de janeiro quanto a Revolução Monarquista de 1902 refletem uma postura de rejeição ao poder central, em diferentes momentos da História. Em termos de consequências, ambos os movimentos levaram a um fortalecimento das instituições no sentido de reafirmar a ordem, ainda que com altos custos pessoais e financeiros para as partes envolvidas.

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