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Crônica da semana por Nilton Morselli

Dando um jeito

Era uma quarta-feira. A noite estava quente, dessas que ninguém quer botar a barriga no fogão para cozinhar. Então o homem decidiu comer um sanduíche na lanchonete que tinha sido inaugurada havia poucos dias, guiado pela propaganda que ouvira no rádio.

Esperou uma mesa pequena ser desocupada e sentou-se. Passaram-se dez minutos e nem o cardápio lhe fora apresentado. Pensou: deve ser porque o movimento está grande, sem notar que não havia garçons por perto. Enquanto isso, entretinha-se assistindo a um programa na TV sem som.

Como a fome já falava alto, levantou-se e foi reclamar à moça do caixa:

– Desculpe, mas já faz quase 20 minutos que cheguei e até agora minha mesa não foi atendida.

Educadamente, a funcionária esclareceu que não havia garçons, que ele deveria escolher e fazer seu pedido por aquela telinha presa ao canto da mesa.

– Mas eu não posso encomendar meu lanche com a senhorita?

– Infelizmente, não. Pelas regras da empresa, só pelos tablets de autoatendimento – respondeu, já fechando a conta do primeiro cliente da pequena fila que se formava.

Por um instante, o homem pensou em ir embora, porque não tinha habilidade para lidar com tecnologias, mesmo as mais simples. Nem telefone celular ele possuía. Mas seria injusto com suas lombrigas sair de lá com vontade de experimentar aquele hambúrguer que saltava aos olhos no grande painel luminoso à sua frente.

Foi quando notou que a próxima tela do painel anunciou em vermelho piscante o número de telefone para delivery com a frase: ligue e peça já o seu!

O homem dirigiu-se a uma moça da mesa ao lado e perguntou se ela poderia emprestar-lhe o celular para uma rápida ligação local. Era coisa urgente. A jovem concordou sem pensar duas vezes.

– Alô, é da hamburgueria? Quero um duplo com queijo empanado e cebola caramelizada, igualzinho ao da propaganda do painel. Por favor, não esqueça do refrigerante e da batata frita.

– Ok, senhor. Ficou em 38 reais. Forma de pagamento e endereço, por favor.

– Vou pagar em dinheiro. E o endereço de entrega é a mesa quatro.

– Como assim?

A moça olhou para o lado da mesa quatro e viu o homem acenando e exibindo um sorriso maroto.

Em cinco minutos o lanche ficou pronto. A taxa de entrega não foi cobrada, mas ele deixou de gorjeta o valor correspondente para a moça que atendeu ao telefone.

(Imagem gerada por IA)

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