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Crônica da semana por Nilton Morselli

Em nome do esporte

O futebol faz os seus súditos adotarem comportamentos estranhos, haja vista o que acontece nos estádios. Quantas vezes a hostilidade entre adversários já transformou pacíficos de escritório em criminosos de ocasião. O que está por trás da violência não é bem a rivalidade, mas alguma descompensação mental.
Sorte nossa que isso não é a regra. A normalidade é a convivência dos contrários, o grito de gol, a comemoração. Em torneios como Copa do Mundo e Olimpíadas, a galera dá show. Estar na arquibancada de um evento como esse exige planejamento e investimento. É um sonho que ainda vou realizar, já que compor a delegação de atletas é um plano que deixei para a próxima encarnação.
Confesso que os Jogos de Paris, que chegam ao fim neste domingo (11), não me pegaram logo no começo. Só depois de assistir a algumas disputas e à conquista da primeira medalha para o País é que os doze deuses do Olimpo me imergiram nas competições, em que sempre torço pelo mais fraco.
Mas a minha ideologia social-cristã só fala mais alto quando estão no ringue, no tatame, na quadra, no campo, na piscina ou no rio Sena, uma Angola x EUA, uma Eslovênia x China. Quando é o Brasil, esse sentimento desaparece e dá lugar a uma torcida meio tresloucada, independentemente do horário e da modalidade.
Tudo bem que tinha metade da idade, mas já fiz churrasco num sábado às 8 da manhã para assistir a um jogo da seleção masculina pela Copa do Mundo do Japão e da Coreia. A turma do Nosso Jornal está aí para comprovar. O penta veio com a alegria de ter o Edmilson no elenco.
O esporte é realmente mágico. Várias vezes encarei dezenas, centenas de quilômetros em pleno domingo, para jogar uma partida de voleibol e defender o departamento municipal de esportes. Pelo futebol, fomos parar no Vale do Paraíba para disputar um torneio. Sem ganhar nada em troca, a não ser a alegria de pertencer a um grupo. É ou não é coisa de maluco?
Ser jovem é ter esperança até mesmo em sonhos impossíveis. Ser esportista é tentar romper o mundo das impossibilidades – no máximo, rompi um tendão. Finda a amadora e saudosa carreira, com os joelhos em ótimo estado, me resta torcer.
E quem diria que, 22 anos depois daquele churrasco matinal, eu estaria firme no propósito de botar uma carninha para assar ao meio-dia deste sábado? E não para ver 22 marmanjos correndo atrás da bola, mas 11 moças vestindo a amarelinha em busca da inédita medalha de ouro, nesta que já é a Olimpíada em que as mulheres do Brasil deixaram os homens comendo poeira.
Que as nossas deusas bronzeadas, prateadas e douradas recebam as bênçãos do panteão olímpico – e a atenção que merecem das autoridades esportivas nacionais. Amém.

Foto: Rafael Ribeiro/CBF

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