Taquaritinga como centro de IA
Por Marcus Rogério de Oliveira*
Dando continuidade à nossa série sobre Inteligência Artificial, Tecnologias Disruptivas e seu impacto em nossa comunidade, começamos agradecendo aos leitores que, semana após semana, acompanham nossas reflexões, participam dos debates e enviam mensagens cheias de curiosidade e entusiasmo. É inspirador perceber como Taquaritinga, no coração do interior paulista, vem se transformando em um território fértil para o pensamento tecnológico, a criatividade e a inovação.
Enquanto a tecnologia avança em um ritmo acelerado, a IA vive uma das maiores revoluções de nossa história recente. Nas últimas semanas, o Google DeepMind e a Universidade de Yale anunciaram uma IA capaz de propor e validar novos tratamentos para o câncer, enquanto a Google Quantum AI lançou o chip quântico Willow, que é até 13 mil vezes mais rápido que os supercomputadores atuais. Paralelamente, robôs humanoides como o Figure 03 e o Unitree H2 começam a ocupar tarefas domésticas e industriais, e ainda novas aplicações de técnicas de fine-tuning ultraleves (retreinamento de modelos de IA prontos) permitem que pequenas equipes criem modelos tão eficientes quanto os das grandes corporações.
A NVIDIA acumula meio trilhão de dólares em pedidos de chips, e Microsoft e OpenAI continuam liderando investimentos bilionários em IA avançada. O futuro está sendo redesenhado diante de nossos olhos. E aqui, em Taquaritinga, como estamos?
Longe dos grandes centros e dos data centers gigantescos e bilionários, já temos algo fundamental para nosso desenvolvimento: pessoas talentosas, conectadas e determinadas. Jovens criadores, estudantes e empreendedores que estão prontos, estão começando a transformar nossa cidade em um laboratório bastante dinâmico de IA aplicada – e se tornando referência nacional com seus projetos.
Veja alguns cenários que podemos criar considerando o impacto da IA como a do DeepMind/Yale, voltada à saúde. Dando mais detalhes, ela identificou combinações de drogas capazes de “ligar” o sistema imunológico contra tumores. Agora, pense nisso em escala local. Nossos tecnólogos e biólogos – formados aqui mesmo, na Fatec e nas faculdades da região – podem desenvolver startups de IA para a saúde.
Aplicativos que analisam exames com o celular, conectam dados do SUS e cruzam informações com variáveis do dia a dia das pessoas. Um programa municipal de inovação em HealthTech pode nascer em Taquaritinga e com apoio da Fatec, atrair investidores, financiamento da FINEP e da Fapesp. Irá gerar centenas de empregos remotos em pouco tempo.
Na robótica inteligente, humanoides como o Figure 03 (financiado pela OpenAI) e o 1X NEO, projetado para uso doméstico, mostram forte apelo para o fim das tarefas repetitivas e muitas vezes insalubres. E aqui, onde não há linhas de montagem industriais para robótica, o foco deve ser outro: o software para robôs, inteligência embarcada, visão computacional e simulação.
Nossos jovens programadores e engenheiros de IA podem desenvolver algoritmos de percepção visual, movimentos realistas e expressões faciais humanas e vender soluções para fabricantes globais. Uma startup para criação de software para robótica pode nascer aqui e também podemos criar espaços de coworking, para possibilitar que nossos profissionais construam softwares que integrem robôs como o Unitree em qualquer indústria do mundo.
Com as primeiras aplicações sendo criadas aqui, os investimentos não tardarão, pois há capital global procurando polos criativos e ágeis como o nosso.
O avanço da Computação Quântica, com o Willow Chip da Google, também abre portas fascinantes. Mesmo sem laboratórios de qubits, podemos usar plataformas de nuvem quântica (como IBM Quantum) para simular reações químicas e desenvolver agroquímicos sustentáveis para soja, cana, amendoim e laranja – pilares da nossa economia agrícola.
Nossos pesquisadores locais competem em nível global e têm plenas condições de criarem um hub de inovação em agroquímica e IA aplicada diretamente ligado às cooperativas e fundações da região.
Com hackathons anuais e parcerias com a Prefeitura, Sebrae e o NAIA da Fatec, vamos premiar soluções que unem IA, agricultura e indústria – e fazer disso um novo ciclo de prosperidade. Algumas de nossas estratégias são:
- Talent Hub – Estamos criando localmente cursos de IA com mentoria para o desenvolvimento de tecnologias com intuito de formar dezenas de profissionais especializados por ano.
 - Eventos Disruptivos – Criaremos em 2026 o “IA Interior Summit”, reunindo empresas, startups, jovens talentos e pesquisadores da região.
 - Incentivos Reais – Estamos criando uma proposta de projeto para o Poder Legislativo local de isenção fiscal para startups de base tecnológica criadas aqui em Taquaritinga.
 - Parcerias Estratégicas – Estamos integrando Taquaritinga a pólos tecnológicos e de inovação como Araraquara, São Carlos, Ribeirão Preto e Rio Preto para acelerar nossos projetos.
 
Infraestrutura pesada não é obstáculo. O nosso futuro é leve, distribuído e digital, o futuro é o software. Em cinco anos, Taquaritinga se tornará o “Vale do Silício do Interior”, com startups exportando tecnologia, centenas de empregos qualificados e investimentos que ultrapassam a casa dos milhões. Porque o talento é o novo petróleo e nossos jovens são o combustível da nova economia.
A inteligência artificial está democratizando o poder de criar, inovar e transformar e nós já decidimos que não seremos espectadores. Seremos protagonistas dessa nova era.
(Imagem gerada por IA)
*Marcus Rogério de Oliveira é um renomado professor da Fatec de Taquaritinga, onde leciona desde 1995. Com um extenso currículo acadêmico, é Doutor em Biotecnologia pela UFSCar, Mestre em Ciência da Computação pelo ICMC-USP e Bacharel em Ciência da Computação pela Unoeste. Sua vasta experiência o tem levado a atuar em áreas como Banco de Dados, Desenvolvimento de Sistemas, Engenharia de Dados e Ciência de Dados.


							


