O Valor Invisível da Inteligência Artificial na Economia Local
Por Marcus Rogério de Oliveira*
Continuando nossa série sobre tecnologias disruptivas e novidades que estão remodelando a economia e a sociedade, nesta edição, analisaremos um estudo recente que está provocando um debate muito importante e está fortemente conectado com nossos propósitos aqui em Taquaritinga: como medir o impacto econômico real das tecnologias, como a Inteligência Artificial, que já fazem parte da vida de milhões de pessoas?
A pesquisa, conduzida por Avinash Collis e Erik Brynjolfsson, revela que a inteligência artificial generativa, que é a tecnologia do ChatGPT, gera um excedente de consumo de impressionantes US$ 97 bilhões por ano apenas nos Estados Unidos. Trata-se de um valor que não aparece nas estatísticas tradicionais do Produto Interno Bruto (PIB), mas que representa ganhos reais para as pessoas.
Essa falta de percepção ocorre, pois o PIB registra apenas transações financeiras diretas, como os US$ 7 bilhões de receita das gigantes OpenAI, Microsoft e Google. O excedente de consumo, por outro lado, mede o valor percebido pelos usuários. É a quantia que estariam dispostos a pagar para não perder o acesso a essas ferramentas por um período.
Esse conceito surgiu em 2019 em um artigo do American Economic Journal. No caso da IA generativa, os pesquisadores aplicaram experimentos online com 82 milhões de adultos americanos (realmente isso não é pouco). Eles apresentaram cenários como: “Você continuaria usando o ChatGPT ou aceitaria um pagamento para abrir mão dele por um mês?”. Ajustando as ofertas, chegaram a um valor médio de US$ 98 por pessoa ao ano, totalizando US$ 97 bilhões.
A lógica também se aplica a outros bens digitais, como redes sociais e câmeras de smartphones, que, segundo o estudo, elevam bastante bem-estar que não são captados pelo PIB. A conclusão é bastante clara para nós: parte significativa do progresso econômico atual está invisível nas métricas oficiais.
Para nossa realidade, a questão é estratégica. Se ferramentas de IA geram valor tão expressivo, aqui em nossa cidade, as pequenas empresas, produtores rurais, prestadores de serviços e profissionais liberais podem estar colhendo ganhos silenciosos, mas reais, ao adotá-las. Aumentar produtividade, melhorar atendimento, criar novos produtos — tudo isso está, de fato, acontecendo aqui agora, fora das estatísticas tradicionais.
O estudo também alerta para não basear expectativas apenas em previsões grandiosas, como os US$ 15,7 trilhões projetadas para a IA até 2030. Mais importante é medir benefícios concretos, validados por pesquisas, e transformá-los em políticas públicas e estratégias de desenvolvimento.
E aqui entra a nossa oportunidade. Mais do que gerar indicadores econômicos que apareçam nas estatísticas oficiais, o avanço tecnológico que estamos impulsionando em nossa cidade irá criar benefícios que vão além dos números. São vantagens que parecem intangíveis — como agilidade, inovação, novos mercados e fortalecimento das relações comerciais — mas, inevitavelmente, acabam se traduzindo em reais ganhos financeiros para todas as cadeias produtivas que adotarem nossas soluções. É uma questão de agir, criar e desenvolver, aplicar a tecnologia e permitir que os resultados, diretos ou indiretos, mensuráveis ou não, sejam sentidos no tempo, transformando nossa economia e fortalecendo nossa posição no cenário regional.
*Marcus Rogério de Oliveira é um renomado professor da Fatec de Taquaritinga, onde leciona desde 1995. Com um extenso currículo acadêmico, é Doutor em Biotecnologia pela UFSCar, Mestre em Ciência da Computação pelo ICMC-USP e Bacharel em Ciência da Computação pela Unoeste. Sua vasta experiência o tem levado a atuar em áreas como Banco de Dados, Desenvolvimento de Sistemas, Engenharia de Dados e Ciência de Dados.
(Imagem gerada por IA)





