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Morre José Aparecido de Oliveira, um taquaritinguense notável

A morte de José Aparecido de Oliveira, na terça-feira (20), teve grande repercussão na mídia nacional. Ainda não juventude, deixou a cidade em busca dos sonhos. E foi um homem realizado, na vida pessoal e profissional. Bancário aposentado como gerente do antigo Banespa, o Banco do Estado de São Paulo, foi árbitro de futebol, advogado e empresário. Ele nasceu no dia 16 de janeiro de 1952 em Taquaritinga. Foi um dos principais e mais polêmico árbitro da Federação Paulista de Futebol nos anos 1980/90. Atuou oficialmente em 33 jogos pela CBF.

De acordo com o site “Apito Nacional”, José Aparecido ficou conhecido por ser disciplinador nos gramados. Seu currículo acumula participações nas finais do Campeonato Brasileiro de 1990 (São Paulo x Corinthians) e dos Campeonatos Paulista de 1990 (Bragantino x Novo Horizontino), 1992 (São Paulo x Palmeiras) e 1993 (Palmeiras x Corinthians).

Em 1995, foi diagnosticado com câncer no estômago. Após ser operado (foram 28 pontos no local da doença) fez quimioterapia, perdendo 12 quilos durante o período de recuperação. Quando se curou totalmente da doença, meses depois, estava perto da idade limite da profissão (45 anos).

 

Polêmicas

Em 13 de outubro de 1991, também num clássico entre Corinthians e Palmeiras, ele levou uma cusparada de Neto, então o craque alvinegro e hoje apresentador de TV. Após ser expulso, o meia corintiano cuspiu no rosto de José Aparecido, que relatou a indisciplina na súmula e o jogador foi suspenso por quatro meses. A partida terminou 2 a 1 para o Palmeiras e, além de Neto, Márcio (Corinthians) e Toninho (Palmeiras) também foram expulsos.

Depois disso, em diversos momentos de sua carreira na TV, o ex-camisa 10 do Corinthians admitiu o erro e em 2013 pediu desculpas publicamente ao ex-árbitro. Inclusive com esse depoimento ao podcast “Mano a Mano”, do rapper Mano Brown: “Eu cuspi no rosto do Zé Aparecido, e eu fui racista. Racista nojento, escroto, covarde. E os meus filhos sabem disso. E eu aprendi a não ser mais. Eu cuspi no rosto de Aparecido, mas será que, se fosse um branco, eu cuspiria? Esse ato nojento, que eu fiz há mais de 30 anos? O nosso país é muito racista. Essa hipocrisia que a gente convive diariamente.”

 

Final de 1993

Ainda de acordo com o site Apito Nacional, a história da final do Campeonato Paulista de 1993 não foi escrita apenas por jogadores de Palmeiras e Corinthians. José Aparecido de Oliveira, árbitro da segunda final, é um dos grandes personagens daquele dia 12 de junho. Apontado pelos torcedores alvinegros como o grande vilão da decisão – e também alvo de críticas por parte dos alviverdes ex-árbitro conta como foram os dias após a final.

“Se hoje perguntassem se eu gostaria de apitar a final de 1993 eu diria que não. Nem que fosse para ganhar R$ 1 milhão. Nada paga o que eu passei. De benefício para minha carreira aquela partida não trouxe nada. Eu já era um árbitro consagrado e internacional, que apitava Libertadores e jogos de Eliminatórias de Copa do Mundo. Foi muito difícil em todos os sentidos. Minha família não merecia passar por tudo aquilo”, contou José Aparecido, que era corintiano.

Ele disse que dificilmente esqueceria os dias seguintes ao 12 de junho de 1993. Nas ruas de São Paulo, xingamentos e intimidações fizeram o banco em que trabalhava na época oferecer apoio de quatro seguranças. Mas nem isso coibiu as ameaças de morte, que foram desde revólver batendo no vidro de seu carro até denúncias de bombas em sua agência.

Em 12 de junho de 1993, o Palmeiras bateu o Corinthians por 3 a 0 no tempo normal e 1 a 0 na prorrogação. Quatro jogadores foram expulsos, três do Alvinegro (Henrique, Ronaldo e Ezequiel) e um do Alviverde (Tonhão). Há quem acredite que a história daquela final seria outra se Edmundo também recebesse o vermelho, por dar uma voadora em Paulo Sérgio, no fim da etapa inicial.

Um ano e meio após a decisão do Paulistão de 1993, José Aparecido de Oliveira sumiu das escalas de arbitragem e dos noticiários. Os jogos de futebol foram trocados por consultas médicas que deram início ao grande desafio da sua vida, a doença.

 

Escolha dos árbitros foi mistério

Na noite de sexta-feira, dia 11 de junho de 1993, o telefone tocou na residência de José Aparecido. A ordem da Comissão de Arbitragem da Federação Paulista de Futebol era que ele se apresentasse em um restaurante da Grande São Paulo, no sábado, às 9h. Com bagagem e experiência internacional, ele foi pego de surpresa ao encontrar os também árbitros Oscar Roberto Godoi, João Paulo de Araújo e Dionísio Roberto Domingues no local e ser informado que seria o dono do apito da segunda decisão do Campeonato Paulista.

Apesar de ter no currículo participações nas finais do Campeonato Brasileiro de 1990 e do Campeonato Paulista de 1992, José Aparecido confessa que aguardava a indicação de Godoi para comandar aquele clássico. Por determinação da Federação, ele ficou com o apito e, em mais uma decisão polêmica, os outros árbitros envolvidos na escolha foram designados a assumir a função de auxiliares, como era chamado os assistentes na época).

“Não houve um sorteio, houve uma indicação de quatro árbitros. Todos foram pegos de surpresa porque aguardávamos que tivéssemos auxiliares também, mas nenhum foi convocado. A Federação entendeu que um apitaria, dois seriam os bandeiras e o outro, quarto árbitro”, rememorou em entrevista

 

Pressão de dirigente

Segundo reportagem da “Folha de S.Paulo”, José Aparecido teria recebido ordens de um dirigente da CBF para favorecer o Brasil no amistoso contra o México, dia 7 de agosto de 1993. O dirigente era suspeito na época de comandar esquema de corrupção das arbitragens e manipulação de resultados.

No jogo, que ocorreu na época das eliminatórias para a Copa de 94 e terminou em 1 a 1, o diretor teria dito que era preciso ganhar o amistoso para contentar a torcida, já que a seleção não vinha bem na competição oficial, pois empatou com o Equador em 0 a 0 e perdeu da Bolívia por 0 a 2. A recomendação era para que qualquer lance duvidoso dentro da área fosse apitado pênalti para o Brasil, e que o juiz expulsasse qualquer mexicano que reclamasse. Cerca de três meses depois da partida, na qual um pênalti foi marcado a favor do México, veio o que soou como retaliação: José Aparecido foi afastado do quadro da FIFA.

 

Aposentadoria

José Aparecido de Oliveira se aposentou como gerente do Banespa, hoje Santander. Graduado em contabilidade, direito, pedagogia e técnicas comerciais, dedicou-se também ao ramo de viagens e excursões na empresa de turismo que montou em São Paulo.

 

Mágoa

“Minha única mágoa com a Federação foi que, de 93 para 94, eu fiquei muito doente, eu tive um câncer. Eu levei 23 pontos na barriga pela cirurgia no estômago. Eu fiquei internado e quem é que foi me ver? Ninguém. Quem me ajudou foi a minha mãe, a minha família. Eu fiquei muito triste com isso aí. Eu me afastei do futebol e você nunca mais me viu em lugar nenhum. Para muita gente o Zé Aparecido morreu. Para muita gente o jogo do Corinthians com o Palmeiras enterrou o Zé Aparecido. Pelo contrário, eu fiquei doente”, disse o ex-árbitro em tom de desabafo.

 

No TJD

Em junho de 2020, para o mandato dos novos membros do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) da Federação Paulista de Futebol (FPF) que se iniciou em julho, o presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de São Paulo (Safesp), Dr. Aurélio Sant’Anna Martins, indicou para a vaga o ex-árbitro de futebol e advogado, o Dr. José Aparecido de Oliveira. O mandato terminaria em julho do ano que vem.

“Estamos certos de que o Dr. José Aparecido terá no TJD o mesmo sucesso e alto nível que teve em campo como árbitro. Confiamos em sua história, em seu nome e seu trabalho”, comentou à época o presidente do Safesp.

Aos 71 anos, o taquaritinguense não resistiu ao rompimento de uma artéria do coração. O velório e o enterro foram realizados no cemitério Memorial Jardim Santo André, no ABC Paulista.

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