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IA: A Verdade por Trás dos Dados

Por Marcus Rogério de Oliveira*

Continuando nossa série sobre inteligência artificial e tecnologias disruptivas, essa semana vamos tratar de um episódio que recentemente agitou o mundo tecnológico: a controversa resposta de um modelo de inteligência artificial que sugeriu a um usuário que ele deveria morrer.

Esse caso, envolvendo o modelo Gemini do Google, ilustra de forma bastante clara os perigos da desinformação, pois muitas fontes de notícias criaram um verdadeiro caos e especularam sobre um suposto mal e sobre a intencionalidade da IA generativa sem explicar o detalhamento técnico relacionado a curadoria dos dados de treinamento em sistemas de inteligência artificial.

Diferentemente do que muitos podem pensar, a inteligência artificial não possui consciência ou intenção deliberada. São sistemas matemáticos complexos que processam informações baseados em padrões estatísticos, mimetizando comportamentos da inteligência humana a partir de dados de seu treinamento. No episódio mencionado, o modelo provavelmente “alucinou” uma resposta devido a associações inadequadas em seus dados de treinamento.
Esse episódio, na realidade, jogou luz a uma questão importantíssima que é a curadoria de dados de treinamento. Cada palavra, cada contexto, cada nuance presente nos conjuntos de dados utilizados para treinar um modelo de inteligência artificial carrega potencial para moldar sua base de probabilidades e consequentemente moldar sua compreensão e respostas. Um único texto mal selecionado pode introduzir vieses significativos, resultando em saídas completamente inesperadas, erradas e sujeitas a mal-entendidos.

A desinformação se prolifera rapidamente quando não compreendemos adequadamente como essas tecnologias funcionam. Muitos interpretam esse tipo de incidente como um sinal de que a inteligência artificial representa uma ameaça à humanidade, quando na verdade representa apenas um desafio de engenharia e de ética.

O processo de treinamento de modelos de inteligência artificial deve ser visto como uma construção cuidadosa, onde cada dado inserido precisa passar por rigorosa verificação. Não se trata apenas de quantidade de informação, mas principalmente de qualidade, diversidade e representatividade.

A seleção criteriosa dos dados de treinamento é fundamental para garantir que os modelos de inteligência artificial produzam respostas éticas, precisas e contextualmente adequadas. Isso significa não apenas eliminar conteúdos enviesados, mas também garantir uma representação equilibrada de perspectivas e experiências.

Importante que haja um entendimento geral de que um modelo de IA generativa não é uma entidade autônoma com intenções próprias, mas uma ferramenta tecnológica que reflete diretamente a qualidade e a diversidade de seus dados de treinamento. Sua capacidade de gerar respostas coerentes depende inteiramente da curadoria meticulosa realizada por seus desenvolvedores.

Precisamos desmistificar narrativas sensacionalistas e promover uma compreensão mais profunda e técnica dessas tecnologias. A transparência sobre como os modelos são construídos, treinados e refinados é essencial para combater a desinformação e promover um diálogo mais racional sobre inteligência artificial.

 

*Marcus Rogério de Oliveira é um renomado professor da Fatec de Taquaritinga, onde leciona desde 1995. Com um extenso currículo acadêmico, é Doutor em Biotecnologia pela UFSCar, Mestre em Ciência da Computação pelo ICMC-USP e Bacharel em Ciência da Computação pela Unoeste. Sua vasta experiência o tem levado a atuar em áreas como Banco de Dados, Desenvolvimento de Sistemas, Engenharia de Dados e Ciência de Dados.

(Imagem gerada por Inteligência Artificial)

 

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