Crônica da semana por Nilton Morselli
Muita atenção, eleitores
Falta menos de um ano para as eleições de 2026, quando a povo irá às urnas para dizer se aprova ou não o governo Lula, os mandatários dos Estados e aquela galera no Congresso Nacional. Pelas movimentações que já se vê, nas “redes” e nos bastidores, dá para ter uma dimensão da encrenca que vai ser.
Será a primeira eleição presidencial depois do advento da inteligência artificial. Como grandes plataformas generativas se popularizaram, dá para imaginar o quanto serão utilizadas por gente que ver o circo pegar fogo, com o palhaço, os leões e a plateia dentro.
Vai ser um tal de fazer vídeo de candidato falando o que não disse e, pelo menos em público, jamais diria. Há quem reconheça de pronto essas produções, que já andaram circulando, como peças fictícias. Mas os tiozinhos do zap acreditam. Isso sem falar dos mal-intencionados e dos interessados em eleger seus candidatos de estimação e difamar os adversários.
Em um país de dimensões continentais, dificilmente a Justiça Eleitoral dará conta de conter as mentiras. Ela, que é alheia às lorotas que as campanhas apresentam em rádio e TV, deixa para os eleitores separarem a mentira da verdade. Será que dá para cobrar dela reprimir o que acontece nas profundezas da internet?
Sim, prezado leitor, há quem ande dizendo por aí que o advento da I.A., com a popularização de vídeos nos quais o candidato fala o que nunca disse, pode, veja só que coisa, vir a alterar o resultado das eleições. É o que se chama de “burrice artificial” em escala industrial.
A mentira, que sempre foi um tempero, às vezes forte demais, na sopa da política, poderá ser oferecido como prato principal, servido em bandejas de prata, com ares de verdade irrefutável. Pense bem, na confusão que já era antes, com o boca-a-boca dissimulado, a promessa exagerada e o locutor de rádio que torcia descaradamente. Agora, o diabo veste roupagens tecnológicas de fazer inveja a qualquer truque de mágica de quinta categoria.
O eleitor, esse que já tem de se virar com o preço do arroz e a fila do ônibus, terá de se transformar em uma espécie de Sherlock Holmes caseiro, prestando atenção em cada piscada de olho, em cada movimento labial que pareça exagerado, em cada foto ou vídeo que mostre um candidato, seja ele quem for, na mais constrangedora das situações.
Desconfie sempre, meu caro, do excesso de perfeição ou do exagero da desgraça. O sujeito em questão, aquele que aparece na tela, suando frio e proferindo heresias, pode ser apenas uma sombra, uma ilusão de ótica alimentada por meia dúzia de pixéis e muita má-fé. A tecnologia, que deveria nos trazer a luz, oferece-nos agora uma lanterna que vem sendo usada para ofuscar o brilho da verdade.
A Deusa de Venda nos Olhos terá de dar uma espiadinha para conferir se algum carcamano pesou demais a mão em um dos pratos de sua balança. Não se trata mais de fiscalizar a tiragem de um jornaleco de bairro ou a distribuição de brindes com o número do candidato. A encrenca agora está no ar, invisível e rápida como um vírus, mudando a cabeça do eleitor na calada da noite, enquanto ele folheia a tela fria do seu celular. A tarefa é hercúlea. Vai ser preciso mais que boa vontade, mas uma sabedoria salomônica e uma agilidade de gato para não deixar o país escorregar no sabão da desinformação.
Que os operadores da Justiça Eleitoral, de juízes a mesários, tenham sorte, paciência e inteligência para distinguir o joio eletrônico do trigo eleitoreiro. E que o povo brasileiro, esse espelho de todas as nossas grandezas e misérias, tenha o juízo que se espera de uma nação que, depois de tanta luta, não pode se dar ao luxo de confundir gato com lebre, ou, o que é pior, trocar a verdade por um punhado lorotas digitais. O voto é coisa séria, e a urna merece respeito.
(Imagem gerada por IA)










