Crônica da semana por Nilton Morselli
Uma festa com mais festa
Tão lindas são as manhãs de agosto que temo descrevê-las e não ser competente nessa tarefa, porque cada pessoa que olhe para o horizonte pode ver todo esse esplendor. Uma chuva, sorrateira e providencial numa madrugada desta semana, nos fez o favor de melhorar o ar que estava ficando impróprio, de tão empoeirado. Tivemos um inverno digno do nome, mas tão carente de chuva que até as plantas do quintal já se ressentem.
O mês, que era festivo para nós taquaritinguenses, está chegando ao fim pedindo uma reflexão. Se a aridez de agosto não é necessariamente uma novidade, uma outra coisa está se tornando perene: “a falta de clima” na festa da cidade. Com todo respeito à programação deste ano, ela representou pouco.
Esteve melhor, claro, que a do ano anterior, quando se descobriu uma crise sem precedentes que simplesmente inviabilizou qualquer festividade. Evidentemente, o tamanho da festa é proporcional a quanto se pode gastar com ela.
Um erro foi terem antecipado a Festa do Peão para julho. Já não havia aquelas noites gratuitas anteriores ao rodeio. Já não havia atrações dentro do recinto. Agora, o folguedo foi reduzido a três noites de show com ingresso pago.
Um pouco desse texto foi inspirado no discurso do prefeito, Dr. Fulvio Zuppani, na sessão solene da Câmara. Saudosamente, ele falou das tradições da cidade e pediu a união de todos, como tentativa de melhorar o que não anda bem.
Seria importante que as autoridades e as chamadas forças vivas realmente se unissem para tomar medidas que sigam nesse sentido. Gostaria de estar errado nessa análise, mas acredito que há uma grande falta de liderança, de quem dê o primeiro passo.
Os líderes setoriais, que realmente querem ver o progresso da cidade, precisam ocupar esses espaços. Se já não era possível ficar esperando pelo poder público, agora ainda mais, pois faltam recursos até mesmo para o básico.
Pode ser que realmente seja saudosismo de um tempo que não volta mais. Mas também não se pode abandonar de vez aquela vocação festiva, em que seja exaltado o orgulho de ser taquaritinguense, de pertencer a uma terra que sempre soube conciliar tradição e alegria, mesmo em meio às dificuldades.
Porque a festa da cidade nunca foi apenas um evento no calendário: era –e ainda pode ser– um símbolo de identidade, de encontro entre gerações, de reencontro entre filhos ausentes e sua terra natal. A celebração que enchia as ruas, que fazia os olhos das crianças brilharem, os comerciantes prosperarem, e os amigos se reunirem nas praças para falar da vida e dos velhos tempos.
É compreensível que os tempos sejam outros. Há restrições orçamentárias, há prioridades que clamam por atenção, há uma realidade dura em cada setor. Mas, ainda assim, não se pode permitir que o desânimo tome o lugar da criatividade e do esforço coletivo.
Talvez, mais do que nunca, seja hora de repensar a festa: envolver mais a comunidade, ouvir os anseios da população, contratar shows de estrelas de boa projeção, sem se esquecer dos artistas locais, relembrar os feitos e os nomes que ajudaram a construir a história de Taquaritinga. Não se trata apenas de entretenimento, mas de manter acesa uma chama que aquece o sentimento de pertencimento e orgulho.
Este agosto que termina nos deixou essa lição. Que ela seja bem compreendida. Que a escassez nos ensine a valorizar o essencial e que a nostalgia não se transforme em resignação, mas em combustível para reimaginar, juntos, o que queremos para os próximos anos.
Porque tão lindas são as manhãs de agosto… mas mais belo ainda será o dia em que essa união e esse espírito de renovação voltarem a tomar conta da cidade.
(Imagem gerada por IA)





