Crônica da semana por Nilton Morselli
Finitude
Um dia seremos apenas a saudade de alguém e, depois de algum tempo, nem isso, porque as pessoas que poderiam sentir a nossa falta também já terão partido.
Mas antes desse silêncio definitivo –o exato instante em que nossa lembrança se dissolve como neblina nesses dias frios– há toda uma vida para ser vivida. É nesse espaço efêmero, entre o primeiro suspiro e o último abraço, que somos chamados a protagonizar a própria história, e isso exige acreditar na vida antes da morte.
No cenário espírita, aprendemos que a vida é parte de um grande plano evolutivo. Viemos do invisível para o visível, e retornaremos ao imaterial, mas com a bagagem daquilo que semeamos: amor, bondade, caridade, aprendizado. Ampliamos a luz do nosso espírito nos gestos de afeto, nas escolhas justas, nas lágrimas de compaixão.
Imaginemos, então, que o palco da existência é iluminado por nossos atos: cada encontro, cada perdão, cada sonho compartilhado acrescenta cor a esse espetáculo. Não somos figurantes passivos de um enredo pronto, mas protagonistas que escrevem cada cena, escolhendo amar, crescer e servir.
E assim, mesmo quando partirmos, restará em nós a eternidade do que fizemos e sentimos. A saudade será apenas o eco de nossas escolhas, e esse eco viajará por entre as almas que tocamos, reverberando carinho e gratidão.
Então, vamos viver fazendo de cada dia um ato consciente, generoso, construído com o coração desperto. Sejamos a presença que acende a chama da esperança no outro. Porque, no grande teatro da vida, somos não só atores, mas diretores do nosso destino –e o roteiro precisa valer a pena antes de sairmos de cena.
Porque no fim, quando a nossa luz se transformar em farol na imensidão, a cortina cairá com a serenidade de quem cumpriu bem sua jornada. E, mesmo que sejamos apenas lembrança, que essa memória esteja permeada de amor, o mais alto e belo dos atos de espiritualidade.
(Imagem gerada por IA)




