Crônica da semana por Nilton Morselli
Manifesto dos seres da floresta
A fauna e a flora do Bloco Espanta Gente pedem licença aos Espíritos da Floresta e passagem de primeira classe para o Carnaval de 2025
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Somos uma multidão de cores e cantos, animais de todos os matizes, plantas de muitos biomas, árvores que carregam histórias e aromas, seres encantados e folclóricos, e queremos nos juntar à festa da vida, celebrando o amor, a liberdade e a alegria. Com corações pulsantes e fantasias, reverenciamos os ancestrais desta Terra que nos extasia.
Mais do que uma simples folia, o Carnaval faz das vozes dissonantes uma sinfonia. E nessa sintonia de vontades, um chamado à consciência. Com a palavra, a ciência aliada a tristes experiências: sentimos na pele que o planeta precisa de alento, e como guardiões da Terra, estamos de olhos atentos.
Nos passos do Espanta Gente, ecoamos a Declaração dos Povos da Floresta, que nos lembra que a nossa festa é uma oportunidade para lançar esse alerta. Em cada passo, em cada batida do tambor, firmamos um compromisso de proteção e labor, pois sabemos que a natureza é nossa companheira de dança, nosso lar sagrado, “berço dos filhos e túmulo dos antepassados”.
Compomos aqui um hino de comunhão com nossos irmãos de penas, patas, folhas e frutos. Com amor em estado bruto, celebramos ao lado de pássaros de belas plumagens que nos trazem mensagens dos ventos e das borboletas – alvas, amarelas, vermelhas e pretas – que bailam como estrelas no céu.
Convidamos os bichos, dos pequenos insetos aos grandes felinos, porque todos têm lugar nesse hino. Somos a pequena parte de uma família maior, somos bronze, prata e ouro, mas a harmonia da Terra é nosso maior tesouro.
Ao cantarmos nossa marchinha, lembramos dos rios e das matas que compõem o silvestre santuário; louvamos as águas que correm ao ritmo do samba e as folhas que balançam ao peso das gotas de orvalho. A vida da floresta é pulsante e sagrada, que o homem insiste em profanar, como se no amanhã não houvesse esperança. É chegada a hora de proteger e retribuir o que Deus nos dá em abundância.
Chega de massacre ambiental, basta de queimar a Serra do Jabuticabal! A minha pátria é a Terra, como ensinou o Frei Leonardo. Sem utopias viáveis, morreremos todos, sufocados pelo fogo ardente da ambição ou afogados nas enchentes da corrupção. Abaixo à morte da vida animal, de transformar em cinza o seu manancial. Mais amor, mais respeito, é tudo o que queremos com esse preito de Carnaval.
Nós, os seres da floresta encantada, exaltamos a nossa origem, na esperança de que o cheiro da relva não volte a se transformar em cheiro de fumaça e fuligem. Que ao lado do Curupira guardião, o Espanta Gente espante os agentes da degradação. E que o canto da ave canora seja enfim a trilha sonora da verde redenção.
Que os Espíritos da Floresta nos abram os caminhos e que a natureza abençoe nossa passagem! Decretamos, pois, a abertura do Carnaval diante de todas as espécies, visitantes e nativas, que habitam o Bar do Tadao! Que os tambores ressoem, mas que não abafem o grito da Mãe Terra. Que não nos faça esquecer os cataclismos e a crise climática – muito menos a política errática. Sem o negacionismo que nos põe em risco, mas sob confetes e serpentinas, há uma verdade inconveniente: a Terra, em transe, corre perigo.
Como sentinelas da vida e herdeiros do mundo, desejamos que cada sorriso seja um compromisso e cada passo, uma promessa de respeito e cuidado com o lugar que nos acolhe. Viva os seres da floresta! Viva o Carnaval.
(Imagem gerada por IA)




