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Crônica da semana por Nilton Morselli

Queremos um aeroporto

De uns tempos para cá não me sai da cabeça a ideia de que Taquaritinga carece de um aeroporto. Precisa simplesmente porque não tem cidade importante sem um lugar para pousos e decolagens. Embora não seja a coisa mais premente do momento, constatei que não sou o único a pensar assim. Talvez também porque veja o progresso batendo à porta, com empresas inovadoras se instalando no nosso parque industrial. Só lamentamos que o porto seco tenha sido apenas um sonho.
Não fica bem um homem de negócios, algum artista de renome, perguntar se aqui tem aeroporto e a gente, vermelho de vergonha, dizer que não, não tem. Uma cidade desse porte não pode aceitar que uma figura importante tenha de aterrissar na região e terminar de cumprir por rodovia o percurso até aqui. Isso é perda de tempo, e todo mundo sabe que tempo é dinheiro. Os moradores também se valeriam do empreendimento.
O agrobusiness, nunca antes na história deste país, esteve tão em alta. Cada vez que entramos no supermercado fazemos essa constatação, ruim para uns, boa para outros. A economia está aquecida, haja vista a expectativa do turismo nacional no tardio Carnaval deste ano, e a oferta de empregos batendo recordes O dinheiro está correndo nas veias de muitos brasileiros que tiveram a sorte de serem os donos dos meios de produção neste momento de retomada econômica. Portanto, temos uma nova casta de milionários que, a par de colheitadeiras altamente tecnológicas, acabam comprando um jatinho para facilitar as coisas.
No passado, Taquaritinga já teve um campo de aviação. Foi construído pelo prefeito Carlos de Oliveira Novaes para atender aos interesses do município durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Portanto, há 93 anos, ganhávamos um espaço destinado às carangas voadoras. Era modesto, mas servia para aeronaves de pequeno porte. Durou algumas décadas.
Os menos jovens são saudosos desse local, encravado na Fazenda Contendas, assim como da época em que o tomate era o nosso ouro vermelho, a movimentar as engrenagens das indústrias processadoras. Os nostálgicos ainda falam com orgulho do nosso miniaeródromo, assim como da Peixe, da Paoletti e da Colombo. A pista não era explorada comercialmente, ou seja, ninguém podia fazer uma ponte aérea entre, por exemplo, Taquaritinga e a capital paulista. Mas punha a cidade no mapa dos órgãos de controle de tráfego aéreo.
Quiseram as conjunturas sociais e econômicas que o local passasse a ser usado para o cultivo agrícola, mais precisamente a cana. Desde então, os rasantes da Esquadrilha da Fumaça, que se apresenta na Festa da Cidade de vez em quando, são o mais próximo que um avião chega deste solo de Bernardino Sampaio.
Algo semelhante ocorre com os trens. Assim como as aeronaves, eles apenas passam por aqui, não param mais para apanhar cargas ou passageiros como antigamente. Há também gente que lamenta o fim das viagens por locomotivas – eu, por exemplo, nunca pisei num vagão de primeira, segunda ou terceira classe. Há que se pensar também em uma maneira de reativar os trens, um meio de transporte seguro, barato e charmoso.
Grandes composições ferroviárias passam nas nossas linhas, mas não param. Aviões cruzam os céus do município, mas não descem. Eis aí uma bandeira para a classe política, sempre ávida por lutas em prol da população. Desde o início da década de 1980, já temos uma praça a homenagear Santos Dumont, o pai da aviação, onde cairia bem uma réplica do 14 Bis. Com o desenvolvimento chegando nas asas da Indústria 4.0 e do entretenimento, é mais do que necessário construir um aeroporto. Mesmo porque pensar grande é uma vocação nossa. Aqui, onde o prefeito mais vezes no cargo foi o Negão, tudo vem no aumentativo: Taquarão, Batatão, Festa do Peão. Até o padroeiro é São Sebastião! Queremos é andar de avião!

Ilustração: Freepik

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