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Crônica da semana por Nilton Morselli

A História, com ‘h’ maiúsculo

O povo não sabe História. Há nessa introdução duas generalizações. Quanto à primeira, representada pelo sujeito (“o povo”) não tenho nenhuma preocupação de estar cometendo uma injustiça. Basta ir para a rua e perguntar sobre o ano de Proclamação da República. A maioria não saberá a resposta – talvez nem se lembre da definição de República.
A segunda está no predicado. Saber História é uma generalização de respeito. Duvido que exista uma só pessoa no mundo que saiba tudo sobre todos os ramos dessa ciência que estuda o passado.
Você pode conhecer muito sobre História do Brasil sem ter se aplicado a aprender sobre, por exemplo, a Guerra de Secessão – embora tenha uma vaga lembrança de tê-la estudado na 7.ª série.
Até os professores precisam recordar detalhes, às vezes de véspera, para dar uma aula a respeito da Era Vargas ou do feudalismo. Imagine, então, esperar que um caminhoneiro ou um representante comercial tenha a Revolução Francesa na ponta da língua.
Não é vergonha nenhuma ignorar os impactos da Guerra Fria na América Latina ou o papel da Igreja na Idade Média. Na vida do cidadão comum, temas como esse não fazem a mínima diferença, mas são essenciais se você for prestar o Enem.
Na dura missão de ganhar o pão, costumamos reter o necessário para desempenhar nossas profissões. Quase sempre faltam tempo e energia para ler livros, sobretudo com conteúdos distantes da realidade de cada um.
Nunca vi estatísticas a respeito, mas o interesse por História deve ser proporcional àquele demonstrado por estudantes do ensino médio. Um ou outro gosta de verdade e o restante estuda para passar – e olhe lá.
É uma pena, porque revisitar os caminhos pelos quais a humanidade andou é um bom começo para evitar novos erros. Às vezes, isso é bem concreto, como dizem as pessoas que visitam antigos campos de concentração nazista. Tantos anos depois, esses locais são tão sombrios que as reações são de tristeza e vontade de ir embora.
Certos capítulos da História, portanto, são mais importantes que outros do ponto de vista prático. Todo brasileiro deveria saber, por exemplo, que a supressão da democracia durante a ditadura militar causou um atraso medonho à sociedade.
Mas é preciso reconhecer que nem todo mundo está preparado para entender certas coisas, como a complexa questão palestina. O entendimento de alguns temas históricos requer dedicação.
O mais incrível da História é que, desculpe pelo lugar-comum, ela não para de mudar. As últimas décadas foram profícuas na publicação de obras com novos estudos, a revelar descobertas que ajudam a reescrever partes importantes dela.
Há pessoas que conseguem reter uma grande quantidade de informações na memória e outras que não se lembram à tarde nada do que leram pela manhã. Isso faz diferença para o aprendizado de qualquer disciplina.
Com a facilidade de acesso a materiais de pesquisa nas redes, basta a pessoa se interessar sobre determinado tópico. O problema, quando se fala em História, é a pessoa se interessar.

Foto: Portal Brasil Escola/UOL

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