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Crônica da semana por Nilton Morselli

Um respiro em meio ao caos

A leitura diária de jornais sempre oferece uma diversão. Depois de páginas e páginas dos pesados noticiários de política e economia, que andam dando nos colhões, vem algum refrigério. Pode ser, por exemplo, o nascimento de uma girafinha no zoológico de São Paulo ou um texto-legenda sobre a inauguração de uma réplica da Fontana de Trevi, em Serra Negra.

Podem ser incluídas nessa categoria notícias, digamos, pitorescas. Pitorescas, claro, só para quem lê porque ninguém queria estar na pele do eslovaco que ia para Rotherham, na Inglaterra, comprou a passagem errada e foi parar em Roterdã, na Holanda. A confusão com a similaridade das palavras custou caro. Além de não encontrar a mãe, o rapaz acabou sem grana em um país onde não entendia o que diziam.

Depois de ler sobre mais um bombardeio de Israel contra a Faixa de Gaza, rimos um pouco com o homem que entrou numa casa em Massachusetts, fez uma faxina completa e foi embora sem levar nada. O morador, que estava trabalhando, afirmou não ter contratado ninguém para fazer o serviço. Das duas, uma: ou o faxineiro errou o endereço, ou o ladrão assustou com a sujeira e ficou com pena. Seja o que for, ninguém voltou para esclarecer o que houve ou para cobrar a diária.

Apreensão total com a barbárie que sucede à suspeitíssima eleição na Venezuela, mas aí a gente depara com o caso do homem procurado pela polícia do Reino Unido. Como ele exerce a profissão de modelo, achou por bem entrar com contato com as autoridades sugerindo que trocassem sua foto, postada em redes sociais, por uma outra em que acreditava estar com uma aparência melhor. Autoestima é tudo. Cara-de-pau também.

Seguindo com o submundo real, o que não tem graça nenhuma é a multiplicidade de golpes que se estabeleceu com a era digital. Volta e meia a imprensa relata alguma nova modalidade – ou o mais do mesmo, como este que já aconteceu com quase todo mundo: no começo do mês, copiaram minha fotografia para pedir dinheiro para os meus contatos no WhatsApp. A história é manjada: tive um problema com o meu cartão, me empresta uma grana que amanhã te devolvo. Sorte que ninguém caiu.

Mas, em outro caso, um tio idoso acreditou que fosse eu ao telefone e transferiu dinheiro para a conta do malandro. Em seguida, me ligou informando do depósito e perguntando se precisava de mais alguma coisa, porque eu estaria com o carro quebrado em São Carlos. Os bandidos são convincentes.

Quando o golpista é um sedutor e prepara a ação durante dias ou meses, é mais difícil de evitar. Difícil, mas não impossível, mesmo porque esse tipo de crime já foi tema de muitas novelas das oito. Essa semana mesmo deu em vários jornais a história de um Don Juan condenado por fazer 15 vítimas. A pessoa se aproxima, joga uma conversinha para seduzir e, depois de conseguir o que quer, desaparece.

Por falar em conversinha fiada, depois de ler que Lula não achou nada de grave ou anormal na reeleição de Maduro, fui direto para a cobertura das Olimpíadas de Paris. Apesar de até agora o Brasil não estar se saindo muito bem medalhisticamente falando, o esporte quase sempre é um respiro no meio da realidade nacional – ainda dividida em contínua discórdia.

Já trabalhei fazendo jornal. Minha maior preocupação era pautar assuntos que tivessem algum impacto no dia-a-dia das pessoas, como o reajuste do pedágio, as mudanças no Imposto de Renda e as discussões sobre o aumento do salário mínimo. Enfim, vida real. Mas sabia que, para muitos leitores, o que chamava mesmo a atenção era o nascimento da girafinha e as circunstâncias do último golpe do bilhete premiado.

Foto: Reprodução

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