Crônica da semana por Nilton Morselli
Toda praça
Toda praça merecia ser bem cuidada. Deveria ter um jardim em que as flores, de todas as cores, nunca morressem e estivessem à disposição dos olhos dos passantes. E que pudessem ser colhidas delicadamente e oferecidas à moça bonita em sinal de galanteio. Toda praça deveria ter muitos casais de namorados, ser palco do nascimento de eternos amores e até mesmo de pedidos de casamento. Deveria ter bancos confortáveis para que o velho pudesse tomar os primeiros raios de sol e descansar sob a sombra de grandes árvores, porque toda praça tem vocação de bosque. E pudesse visualizar, na tela da imaginação, o tempo em que se divertia com os amigos ali naquele lugar, acompanhando o vaivém das moças. Toda praça deveria ser a extensão dos quintais, com balanços para as crianças e a segurança desejada pelos pais. Deveria ser alcançada pela voz da mãe chamando para o lanche da tarde e para o banho ao cair da tarde. Toda praça deveria oferecer uma sombra protetora aos que procurassem se refrescar do sol escaldante. Deveria ter uma bica d’água para homens, pássaros, gatos e cães com sede. Deveria ter uma fonte construída por um escultor talentoso, cujos chafarizes exibissem um balé contínuo de águas límpidas. Deveria ter também uma pequena ponte arredondada, que se debruçasse sobre um lago, de onde carpas coloridas pudessem ser apreciadas e alimentadas. Toda praça deveria ter um cantinho que permitisse uma contemplação particular do pôr do sol. Deveria ter uma iluminação nem muito clara nem muito escura, para que a noite não fosse ofuscada pela claridade nem a treva escondesse algum perigo. Toda praça deveria ter um coreto em torno do qual as pessoas pudessem assistir a retretas dominicais. Que o som da música fizesse dançar as crianças e animar os adultos. Toda praça deveria receber o cuidado dos que passassem por ela. Ninguém atravessaria o canteiro, pisaria no jardim, jogaria um chiclete no chão ou poluiria seu ar com fumaça de cigarro. Sentado neste banco, de olhos bem abertos, pude imaginar que toda praça deveria, enfim, ser uma praça que deve existir em algum lugar do mundo.
Imagem: Reprodução




