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Crônica da semana por Nilton Morselli

Odete Roitman assassina?

Quem trabalha na imprensa ou acompanha as notícias por algum meio de comunicação sabe como é árdua a luta por encontrar novidades. Isso desde sempre. O slogan do Repórter Esso – “o primeiro a dar as últimas” – era uma baita pretensão, porque o furo de reportagem não é a regra, embora seja o objetivo de todo jornalista.
Daí que o exercício da profissão leva a determinados rituais manjados. As pautas sazonais ajudam muito a preencher as lacunas. Em janeiro, os impostos e o material escolar. Em junho, a tradição das festas juninas. Em dezembro, o aquecimento das vendas por conta do Natal. Nesses temas, é missão quase impossível dar uma angulação diferente, ou seja, encontrar a novidade.
Com a crônica é a mesma coisa. Por mais inventivo que seja o autor, tem dia que empaca, ao contrário de outros que nos oferecem diversas opções. Mas, para mim, uma coisa já está bem clara: qualquer assunto que escolher, o Rubem Braga já escreveu a respeito. Pudera, com cerca de cinco mil textos, impossível ter-lhe escapado algum.
O mestre Braga, assim como outros escritores consagrados, já recorreu à estratégia de requentar crônica. Ou de telefonar ao amigo para pedir uma emprestada, com a promessa de devolução quando necessário, como em caso de viagem ou indisposição estomacal.
Passando os olhos no noticiário, vejo que requentar não é feio. Até o setor de teledramaturgia das emissoras de TV lança mão dessa saída quando faltam boas histórias. O remake é apresentado com pompa, escalando um novo elenco para grandes sucessos.
Agora mesmo a Globo vai regravar Vale Tudo, a novela que marcou para sempre a vida de Beatriz Segall. Sua personagem ficou para sempre no imaginário popular por causa do suspense em torno do autor do crime que a tirou da trama no capítulo que foi ao ar na noite de Natal de 1988. “Quem matou Odete Roitman”, perguntava o Brasil, que garantiu à Globo 81 pontos no Ibope.
Para o papel que foi de Segall, Fernanda Torres foi convidada. Ela aceitou de imediato interpretar a vilã. É claro que haverá mudanças no texto para que o desfecho seja diferente. Quem sabe a nova Odete nem morra na versão 2025 ou seja ela a assassina. Ou então, que a megera acabe forjando a própria morte e essa seja a grande revelação do último capítulo. Veremos.

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Na quarta-feira passada se comemorou o Dia da Pizza. Lembrei da minha mãe, não porque ela celebrava essa data, que no Brasil só foi instituída em 1985. Dez de julho, para nós, era um dia qualquer. Mas porque em casa a pizza era feita por ela. Na minha infância, nunca vi nem experimentei uma pizza de pizzaria.
Acompanhávamos a fabricação desde a abertura da massa numa mesa enfarinhada. Os sabores eram os mais simples, com muçarela, azeitonas, rodelas de tomate e de calabresa. E como era saborosa a pizza de dona Nadir, assim como tudo o que ela fazia. Quando tinha pizza, fosse o dia fosse, para nós pequenos já era uma festa. Eu fazia vigília na porta do forno, na ânsia de ver sair aquela maravilha da culinária.
A pizza caseira deve fazer parte dos sabores da memória de muitos de nós. As pizzas de hoje, entregues ao clicar de um botão, podem até ser mais incrementadas, mas certamente não serão lembradas pelos adultos de amanhã. O sabor de mãe é algo que se guarda no paladar e no coração.
O Cortella fala da “despamonhalização” da família. O preparo da iguaria era apenas um pretexto para reunir a criançada o dia inteiro em torno de um ritual, da colheita das espigas ao cozimento. Hoje, sem tempo para nada, compramos a pamonha no supermercado. A criança nem imagina como era gostoso ajudar a mãe a ralar o milho. A gente se revezava no ato de girar a manivela do ralador.
O conceito de felicidade mudou tanto que hoje nem sei se realmente fui feliz. Pode ser que sim, mas pode ser apenas saudade de um tempo em que as pizzas eram simples – simples como nós – e as pamonhas não davam em gôndolas de supermercado.

Foto: Divulgação/TV Globo

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