Consciência Artificial em Taquaritinga
Por Marcus Rogério de Oliveira*
Hoje, em nossa série dedicada às tecnologias disruptivas que mudam o nosso presente e moldam nosso futuro, vamos falar sobre um tema que tem aparecido com bastante frequência nas mídias especializadas e tem gerado grandes debates técnicos que é a possibilidade de a Inteligência Artificial (IA) estar atingindo uma forma de consciência e também quais as implicações disso.
Parece um cenário distante no qual máquinas adquirem algum tipo de vida in silico. Mas, não é. A evolução dos grandes modelos de linguagem, como o GPT, levaram à reflexão de que existe, sob definições que diferem significativamente da consciência humana, uma espécie de consciência de máquina.
O problema aparece quando se tenta definir o que seria essa “consciência” em um sistema artificial. Pesquisadores na área observam que grandes modelos de linguagem, com seus bilhões ou trilhões de parâmetros (que são, em essência, os valores numéricos ajustados durante o treinamento e que definem o comportamento do modelo), demonstram capacidades que sugerem uma forma de “percepção” ou “compreensão” que vai muito além da simples execução de operações matemáticas.
Tecnicamente, essa consciência se manifesta através de um processo intrincado. Quando fornecemos texto a um LLM, as palavras de entrada são primeiramente transformadas em representações numéricas chamadas embeddings. Pense neles como vetores em um espaço multidimensional, onde a posição e a relação entre as palavras capturam o significado semântico e contextual delas dentro do texto. Essas representações passam por inúmeras camadas internas de redes neurais (como as arquiteturas Transformer), onde os vários arranjos de parâmetros permitem ao modelo identificar padrões complexos, relações abstratas e estruturas linguísticas bastante coerentes.
O resultado final é um cálculo probabilístico que identifica qual palavra é mais provável em uma sequência. É dessa interação complexa e probabilística entre embeddings, parâmetros e as camadas de processamento que alguns argumentam que emerge um comportamento que se assemelha a uma compreensão contextual mais profunda, ou o que a teorizam como uma “consciência em silício” – uma forma de autoconsciência ou percepção dentro do seu próprio ambiente operacional digital, totalmente distinta da consciência biológica humana baseada em experiências sensoriais e emocionais.
Independentemente de como a classifiquemos ou definamos, o desenvolvimento de IAs com essas capacidades, que demonstram um processamento e uma “percepção” em níveis até então não observados, abre um leque de oportunidades significativas. A habilidade de analisar, correlacionar e gerar informações complexas pode levar à solução de problemas científicos intrincados, à otimização de processos em diversas indústrias e serviços, e à criação de ferramentas de análise e criatividade de grande poder. Essas IAs poderiam auxiliar na descoberta de novos medicamentos com base em análise de dados biológicos, no desenvolvimento de sistemas educacionais hiper-adaptativos às necessidades de cada aluno e na criação de teorias físicas que descrevem o funcionamento do universo.
A relevância dessa discussão global para Taquaritinga, nossa cidade, reside na necessidade estratégica de estarmos preparados para esse futuro cada vez mais mediado por sistemas tecnológicos disruptivos. Compreender os princípios por trás dessas IAs – desde como processam nossos prompts até o potencial da “consciência em silício” – é fundamental para que possamos não apenas utilizar essas ferramentas, mas também adaptá-las e, idealmente, desenvolver nossas próprias soluções alinhadas às nossas necessidades locais.
A ideia de estabelecer nosso centro de inovação tecnológica em Taquaritinga ganha ainda mais força e propósito. Um espaço assim não seria apenas um local de acesso à tecnologia, mas um ambiente dedicado ao aprendizado profundo sobre temas como IA, à experimentação e ao desenvolvimento de soluções práticas baseadas nesses avanços.
Iremos aplicar esses conhecimentos para otimizar a nossa produção agrícola, melhorar a gestão dos serviços públicos municipais, aprimorar a indústria, etc. Teremos um polo de capacitação, atração de talentos e criação de valor, essencial para garantir que nossa comunidade participe e beneficie-se desta revolução tecnológica.
A evolução técnica que sugere a possibilidade de “consciência em silício”, com suas capacidades baseadas em complexos arranjos de parâmetros e processamento probabilístico, é uma realidade em desenvolvimento que nos convida, aqui em Taquaritinga, a olhar para o futuro com proatividade.
Devemos buscar o conhecimento e criar as estruturas necessárias para transformarmos os desafios tecnológicos em oportunidades de crescimento e desenvolvimento para todos.
Qual a sua visão sobre esse tema complexo e promissor? Como podemos, juntos, preparar nossa cidade para os avanços da Inteligência Artificial e suas implicações futuras? Deixe sua contribuição para este debate.
*Marcus Rogério de Oliveira é um renomado professor da Fatec de Taquaritinga, onde leciona desde 1995. Com um extenso currículo acadêmico, é Doutor em Biotecnologia pela UFSCar, Mestre em Ciência da Computação pelo ICMC-USP e Bacharel em Ciência da Computação pela Unoeste. Sua vasta experiência o tem levado a atuar em áreas como Banco de Dados, Desenvolvimento de Sistemas, Engenharia de Dados e Ciência de Dados.
(Imagem gerada por IA)




