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Cidade enaltece memória de Horácio Ramalho no feriado de 9 de Julho

No dia em que a Revolução Constitucionalista completa 90 anos, a comemoração em Taquaritinga terá uma conotação particularmente voltada à história local. Isso porque, à solenidade tradicionalmente realizada pela Prefeitura, soma-se um evento programado pela família Nunes da Silva em reverência à memória do Dr. Horácio Ramalho – advogado, prefeito e combatente no levante em que o povo paulista pegou em armas para exigir uma Constituição.
Às 11h, será descerrada uma placa no túmulo em que o corpo de Horácio foi sepultado. Na sequência, uma placa será incorporada à praça que leva seu nome, um reconhecimento ao homem que foi companheiro político do Dr. Adail Nunes da Silva, pai de Tato e Augusto Nunes, os idealizadores da homenagem.
A Prefeitura também preparou um cerimonial para, na mesma ocasião, inaugurar um busto de Horácio em frente às Faculdades Ites e descerrar uma placa para que as pessoas conheçam um pouco da vida desse taquaritinguense cuja devoção pela democracia o levou alistar-se voluntariamente no Batalhão Arquidiocesano. Esse grupo guarneceu, na Serra da Mantiqueira, a estrada entre São Luís do Paraitinga e Ubatuba, no Vale do Paraíba, sob o comando do coronel Euclides Figueiredo.
De Taquaritinga, partiram cerca de 300 combatentes. Três deles – Clineu Braga de Magalhães, Dilermando Dias dos Santos e Octávio dos Santos Calheiros – tombaram no confronto. Os objetivos eram a derrubada do Governo Provisório de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova Constituição.
Se as armas dos paulistas não foram suficientes para debelar as tropas federais, pelo menos o recado político havia sido dado e os efeitos da conflagração começaram a ser sentidos. Em 1934, o Brasil conheceu uma nova Constituição.
No ano seguinte, a praça central de Taquaritinga ganhou o nome de “9 de Julho”, em reverência à Revolução. Com a morte do ex-combatente voluntário, a praça passou a se chamar Dr. Horácio Ramalho, uma homenagem merecida (Lei 2.028/1987, de autoria do então prefeito Tato Nunes).
Horácio nasceu na Fazenda São Domingos, filho de José Ramalho e Maria Gonçalves Ramalho, a dona Maricota. José perdera precocemente a primeira mulher, com quem teve o filho Evaristo. Do segundo casamento nasceram Araldo, Joaquim, Zizinha, Amélia, Eduardo, Horácio e Biluca.
Estudou no tradicional Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, para onde ia de moto. Depois, entrou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, até hoje a mais conceituada do país. Aos 23 anos, presenciou a mudança da realidade econômica do país, que atingiu sua família. Os Ramalho perderam quase tudo na crise do café, em 1929.
Horácio tornou-se especialista em julgamentos. Sobre o assunto, escreveu o livro “Como defender no júri”, escrito sob a Constituição de 1967. Naquela época, o autor já falava sobre como tratar o réu com dignidade, realidade que só viria a se concretizar com a Carta de 1988, como fundamento do Estado Democrático de Direito. Horácio também publicou “Carro de boi”, sobre a construção e o uso desse implemento muito utilizado nas fazendas antigamente. A obra que melhor traduz a alma do taquaritinguense se chama “Poemas”, que os filhos editaram postumamente há 24 anos.
Ao lado de dona Jerssey de Paula Ferreira Ramalho, 19 anos mais moça, formou uma família de nove filhos, dois deles adotivos: Maria Augusta, Margarida (falecida), Horácio, Dimas, Maria Helena, Luzia Cristina e Rita, além dos adotivos Bento e Juvelino. O matrimônio foi celebrado na manhã de 19 de abril de 1947.

Política – A vida pública de Horácio Ramalho foi escrita ao lado de Adail Nunes da Silva, representantes de primeira hora do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em dois de seus quatro mandatos, Negão o teve como vice-prefeito. Assumiu a Prefeitura de 1º de dezembro de 1986 até sua morte, em 4 de julho de 1987. Numa manhã fria de sábado, Horácio não resistiu a um derrame cerebral.
A trajetória dos dois democratas é capítulo importante na história política de Taquaritinga na segunda metade do século passado. Em outubro de 1963, Horácio saiu vitorioso como vice-prefeito do Dr. Waldemar D’Ambrósio, com apoio de Adail, ex-prefeito que se elegeu vereador com uma votação extraordinária. A aliança com Waldemar logo se desfez. Em 1968, Adail e Horácio Ramalho formaram, pela primeira vez, a “Dobradinha da Bondade”. Assim nasceria uma dupla imbatível nas urnas.
Os amigos inseparáveis voltaram a disputar em 1976. Venceram, mas não levaram. Adail e Horácio receberam 5.361 votos (45% do total do eleitorado). A Arena, que em nível nacional deu sustentação ao golpe militar, beneficiou-se do artifício da sublegenda que permitia lançar dois candidatos: Manoel Dante Buscardi e Sérgio Salvagni. Os taquaritinguenses garantiram uma vitória folgada à dobradinha, mas a junção dos votos de Salvagni (3.858) e Buscardi (3.053) levou o primeiro à Prefeitura. Adail e Horácio foram prejudicados pelo fraco desempenho do outro candidato do MDB, Orlando Stracine, que obteve apenas 374 votos.
O último pleito que disputaram juntos foi o de 1982. Sem a menor dificuldade, obtiveram 5.798 votos, superando meia dúzia de candidatos adversários. No velório de uma irmã de Horácio, a dona Zizinha, Adail fez um discurso que emocionou e surpreendeu. Negão parecia antever que não estaria no adeus ao amigo e dirigiu afagos a ele como se falasse pela última vez olhando em seus olhos. Foi durante esse mandato de seis anos que Adail (aos 70 anos) e Horácio (aos 81) deixaram a vida para entrar na História.

One thought on “Cidade enaltece memória de Horácio Ramalho no feriado de 9 de Julho

  • CARLOS ALBERTO TEIXEIRA ZAMBONI

    Justa homenagem à esse grande Homem e Cidadão Taquaritinguense, de caráter e bondade irrepreensível.
    Feliz ideia para a realização desse importante evento. Parabéns Augusto e Tato

    Forte abraço a todos da família Ramalho em especial ao amigo e companheiro de CAT, Dimas e à Maria
    Helena, colega e amiga de classe no IEE9 de Julho.

    Carlos Zamboni – Carlão

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