Educação

Taquaritinguense realiza trabalho voluntário em aldeias indígenas do Nordeste brasileiro

Trabalhar como professora em um ambiente que não se parece nem um pouco com uma escola está sendo o maior desafio da psicopedagoga taquaritinguense Elaine Pariz Hernandes. Há quase um ano, ela resolveu deixar a carreira que construiu no município paulista para se dedicar no acompanhamento pedagógico e psicopedagógico em tribos indígenas no nordeste brasileiro.

O gatilho para que Elaine tomasse essa decisão foi dolorido e envolveu questões pessoais que ela precisou superar sozinha. “Foi diante de uma seqüência de situações que tive que enfrentar que pude perceber que eu queria fazer mais pelas pessoas, mas não em benefício diretamente a elas, e sim, em busca de algo maior para eu mesma. Descobri que ensinando com amor o que eu sabia, esse amor viria de volta para mim em forma de aprendizado”  disse em entrevista ao Jornal Tribuna.

 A oportunidade do autoconhecimento e de encarar desafios jamais vividos surgiu após pesquisas na internet sobre projetos sociais que envolviam a educação. “Eu trabalhei por muitos anos em um colégio particular de Taquaritinga e encontrei um projeto de escolas de Educação Infantil em que pessoas (muito queridas!) desta instituição faziam parte. Resolvi buscar mais informações sobre o trabalho e o retorno foi a autorização do Bispo de Moçambique,  Dom Luís, para que eu pudesse prestar serviços voluntários durante um mês nas escolas das aldeias de Cabo Delgado, que pertence à entidade denominada Cáritas”, relatou.

Elaine embarcou no dia 17 de Maio de 2018 para a África e permaneceu no território até o mês seguinte. Durante a estadia, ela conheceu várias escolas e capacitou mais de cinqüenta professores, tendo contato com os mais diversos extremos vulneráveis da sociedade e, principalmente, a fome. “Minha missão era identificar os principais problemas pedagógicos de aprendizagem, além de orientar os profissionais permanentes na conduta correta para as situações. Quando eu estava quase retornando, me ofereci para prestar assistência em uma equipe internacional liderada por uma mulher americana depois que um ciclone atingiu o território. Eu estava encarregada de regulamentar os contratos das pessoas que chegavam lá”, explica.

Quando a taquaritinguense voltou ao Brasil, sentiu que havia deixado algo para trás. “No momento que cheguei aqui, percebi que, de fato, não ‘estava aqui’. Foi uma experiência maravilhosa e me veio a sensação de insaciedade, algo que me chamava para fazer mais. Foi então que tomei a decisão de que iria dar continuidade ao trabalho que realizei lá, mas gostaria de fazê-lo aqui no meu país”, enfatiza.

Meses depois, em uma viagem na companhia de um primo pelo extremo-sul do Nordeste (conhecido como ‘costa do descobrimento), a psicopedagoga conheceu a maior população indígena de Pataxó do Brasil e foi convidada para trabalhar na aldeia. “Os responsáveis pelas comunidades indígenas do local se interessaram no meu trabalho e na experiência que eu acabava de adquirir na África; eles necessitavam de uma ‘visão escolar’ de uma psicopedagoga e eu decidi ficar”.

Assim como os profissionais e alunos, a psicopedagoga também precisou recomeçar os estudos e aprender novas metodologias culturais das tribos. “Depois de me mudar para lá, eu ganhei um curso da diretora da aldeia que se chama “Saberes Indígenas”, pois a educação nas aldeias é totalmente voltada para a cultura deles; temos que trabalhar textos e autores específicos, além de praticarmos rituais durante as aulas”.

Mesmo tendo todo o apoio familiar necessário, Elaine chegou a morar sozinha e depender de ‘caronas’ para se locomover entre as cidades. A taquaritinguense enfatiza que o conhecimento pedagógico e a oferta de capacitação para os professores que trabalham nas tribos são apenas detalhes nessa jornada que ela está vivendo. “Toda essa ‘aventura’ teve início com a minha busca pessoal. Abdiquei bens materiais e me comprometi com uma vida sem acúmulos fúteis, apenas possuindo o necessário para viver. A vivência com eles foi essencial para aprender a valorizar o ‘ser’ antes do ‘ter’, amar a nossa natureza e o que é feito pelas próprias mãos. Andar descanso, comer apenas coisas naturais, fazer a oração indígena em cada encontro com eles e dançar ‘AWÊ’ são experiências que jamais serão esquecidas. Até ganhei o nome indígena de ‘Pehí’, que significa ‘luz que ilumina onde passa’. O acolhimento que o povo Pataxó teve comigo foi inexplicável”.

Agora, a taquaritinguense se mudou para São Luís (capital do Maranhão) está se dedicando em um programa inédito na cidade, fundado por uma colega de profissão que a convidou para organizar e coordenar o projeto pedagógico, denominado como Instituto Diante de Todos. “O projeto é focado no desenvolvimento das habilidades de pessoas com necessidades especiais, utilizando recursos de arte, musicoterapia, teatro, esporte e tecnologia. É algo novo para mim e que estou me dedicando ao máximo para acolher essas pessoas e melhorar a vida de cada um através da educação. É o momento de colocar em prática tudo o que venho aprendendo na minha carreira como educadora”, finaliza.

A expectativa é que o instituto acolha mais de 300 pessoas.

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